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20 de ago. de 2008

Sobre bombas e metáforas

O ser humano, de forma geral, tem dificuldade de sensibilizar-se apenas ao ouvir relatos, por mais graves que sejam. Uma coisa é ouvir a respeito de um assassinato, outra é ver a imagem da vítima. O impacto da imagem é sempre mais eficiente do que o da palavra; a mídia sabe bem disso!

Talvez por esse motivo, na linguagem, desenvolveu-se um modo bastante particular de se utilizar a palavra de maneira que esta possa evocar a imagem, resgatando um pouco do poder desta última. Esse recurso presente no universo abstrato das palavras chama-se Figura de Linguagem e tem seu maior expoente na Metáfora.

Metáfora é uma palavra de origem grega, a qual podemos traduzir por “transferência parcial ou total do significado de uma palavra para outra”. Apesar dessa definição, as metáforas já há muito transcendem a própria palavra, pois existem imagens metafóricas, como as que por exemplo decoram igrejas ou de maneira muito descartável ilustram propagandas. A poesia sempre se serviu muito bem das figuras de linguagem, as letras de música, do universo erudito ou popular, também encontram nela uma aliada preciosa. Quem nunca se utilizou de uma?

As asas dos anjos são metáforas assim como o verso de Camões: “Amor é fogo que arde e não se vê”. Dizer que tal menina é uma gata ou que tal pessoa é um cavalo também é explorar esse universo. Entretanto, se a transferência do significado de uma palavra ou coisa para outra coisa ou palavra pode ser uma maneira de explicar melhor ou traduzir sinteticamente uma idéia importante ou corriqueira, pode ser, além disso, um jeito pérfido de esconder, mascarar ou distorcer o significado original de algo em que a metáfora chega a ser indesejável.

Se as figuras de linguagem ajudam a criar um maior impacto no que se informa ou na idéia que se transmite, por outro lado, por meio do Eufemismo, pode-se também minimizar-se esse impacto, chegando a destituir-se o fato ou idéia de seu verdadeiro sentido. É o que ocorre quando dizemos que um deputado, em vez de roubar, desviou dinheiro público para uso particular. É como se o deputado não fosse um ladrão mas um desviante. Ora, ninguém diz que um pivete desviou a bolsa de uma moça para seu uso particular, tanto pivete como deputado ROUBARAM e ponto final.

Esse uso perverso da linguagem chega a ser emblemático quando nos recordamos das bombas atômicas usadas em Hiroshima e Nagasaki. Foram bombas com poder de destruição absurdo utilizadas contra população civil para criar horror em um Japão orgulhoso e resistente. Tais bombas carbonizaram pessoas que estavam até um raio de doze quilômetros de seu epicentro, cegaram, mutilaram, fizeram órfãos e viúvas. Anos depois ainda havia vítimas, crianças que não viveram a guerra nasceram com deformidades, desenvolveram câncer, pois seus pais haviam sofrido o efeito da radiação. Descobriu-se o que eram bombas hereditárias.

Chamar a Bomba de Hiroshima de rosa? É possível?

A imagem aérea da explosão de uma bomba atômica pode ser considerada bela por sua plasticidade e colorido, mas tentar resumir o que seja essa mesma bomba na figura de uma rosa é no mínimo perverso. Pois foi o que se fez, chamou-se a Bomba de Hiroshima de Rosa de Hiroshima.

Eis a má metáfora, eis o eufemismo doloso!

Vinícius de Moraes, poeta, consciente disso, com seu poema Rosa de Hiroshima busca desconstruir a pérfida metáfora, desconstrói a Rosa para que volte ao seu sentido original de Bomba. Seu poema é antes de tudo uma denúncia, em que a Rosa aparece como metáfora e a Bomba como realidade.

“Rosa radioativa / Estúpida e inválida / Rosa com cirrose / A anti-rosa atômica / Sem cor / Sem perfume / Sem rosa / Sem nada.”

Não é ROSA, é BOMBA!

Tio Leo

Um comentário:

Leonardo disse...

Quando a evolução tecnológica está à frente do aprimoramento moral, o ser humano despreza a vida do próximo acreditando ou querendo acreditar que se justifica matar indiscriminadamente a fim de se estabelecer a paz.



Infelizmente, os exemplos de Hiroshima e Nagasaki não foram o suficiente para impedir que tantas outras atrocidades ocorressem, provocadas pelos motivos mais torpes.



Sempre há, no entanto, a esperança!

QUIZ: POR QUE OU POR QUÊ?

Havendo dificuldade em visualizar o quiz, clique no link abaixo: