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24 de mar. de 2009

Sobre Persuasão

Pintura de Rafael (séc. XVI) "Escola de Atenas"

Convencer alguém sobre determinado ponto de vista é persuadir. Na vida agitada da pólis grega, sobretudo na democracia ateniense, os cidadãos eram chamados a decidir questões relevantes para o bem-estar coletivo no exercício da democracia participativa. Nesse sistema político, não se elegiam representantes como deputados, senadores e afins; as propostas eram discutidas por todos os cidadãos livres (o que não incluía as mulheres) e votadas após considerações que buscavam pesar os diferentes aspectos e implicações das decisões a serem tomadas. Tal ambiente era propício para o desenvolvimento do raciocínio lógico, ponderado, prezando a razão e a argumentação objetiva, bem como para a oratória, ou seja, a maneira de expor esse raciocínio de forma a convencer o interlocutor a abraçar o ponto de vista desejado.

Pais prudentes pagavam aulas de Retórica e Oratória para seus filhos, pois não bastaria haver bons argumentos para se sustentar uma opinião, era necessário também saber desconstruir de modo convincente as argumentações contrárias ao que se queria aceito pelos interlocutores. Para isso, obviamente, a arte de convencer poderia empregar, além da lógica, outros recursos que apelassem à emoção dos ouvintes e facilitassem o processo de convencimento. É bem sabido que as ponderações da razão às vezes sucumbem facilmente às exigências da exaltação dos ânimos.

Criaram-se, portanto, basicamente duas formas de persuasão, a silogística, apreciada por filósofos como Sócrates, Platão e Aristóteles, e a sofística, que parecia realmente importar aos “pais prudentes” e agradava, por diferentes razões, os autores da comédia. A primeira deseja a Verdade, ainda que esta desagrade, já a segunda contenta-se com a aparência de Verdade, e na vantagem que essa aparência pode trazer ao seu defensor.

Na política, é comum o recurso persuasivo ditado pelo marketing, seus mandamentos são claros: traz-se à luz o “positivo” e obscurece-se o “negativo”, apela-se ao sentimentalismo, à emoção simplória, conquistando-se com isso o simples eleitor simples. Citam-se números de forma categórica, com isso a impressão de um conhecimento técnico louvável; mostra-se a família do “grande administrador”: o técnico é também “gente como a gente”. (ver sobre política e politicagem)

Política à parte, em um diálogo de Sócrates, relatado por Platão, o filósofo demonstra de forma bastante lógica que não se devem maltratar os inimigos; Pe. Vieira, no século XVII, também usando de silogismos, denuncia a voracidade com que os reinos dilapidavam os metais e as almas existentes em suas colônias; seu estilo de persuadir aplica as alegorias cristãs aos seus contemporâneos.

Os sofismas, por outro lado, possuem não poucos adeptos e também podem ser bastante interessantes. Aristófanes, IV a.C., em sua peça cômica “As Nuvens”, cria um diálogo memorável entre pai e filho, em que o último vence o pai com argumentos absurdos, porém construídos com aparente lógica, se tornando irrefutáveis pelo pai, que, desconsolado, é obrigado a pedir socorro. O filósofo Erasmo de Rotterdam, no séc. XVI, em seu “Elogio da Loucura”, dá voz à insanidade, que tenta persuadir àqueles a quem se apresenta de que ela é mais amada pelos homens do que o Bem e a Verdade. Seus argumentos são tão fortes que toda a Razão utilizada pela Loucura para se apresentar, ofusca-nos com sua roupagem extravagante e nos leva a pensar: Não são os bobos mais amados do que os filósofos? – ou seja, a persuasão da loucura não excede em poder a persuasão da razão?

Meditemos sobre isso!

Veja também: Sobre Dissertação.

Leia o artigo de Stephen Kanitz sobre Agenda Oculta.

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