Aqueles que escolhem adentrar pelas vias acadêmicas, seja nos cursos de graduação ou, mais adiante, nos de pós-graduação lato ou strictu sensu, são, em algum momento, obrigados a se defrontar com textos clássicos. A priori, alguns mais céticos pensam que essas obras "velhas" servem apenas para conferir certo tipo de status à disciplina estudada nos cursos superiores; outros, mais entusiastas, buscam saber ao máximo a respeito dos antigos autores e de sua contribuição para o pensamento humano. Certamente, estes últimos não hão de se desapontar, porque, para receber o predicativo de clássico, uma obra deve propor algo de novo e consistente, não somente para a geração na qual ela tomou forma, como às próximas que dela se servirão para buscar modelos e sínteses.
Quando comentamos "mas que cara mais maquiavélico" ou brincamos "ser ou não ser, eis a questão", podemos até desconhecer, contudo tais comentários encerram conceitos desenvolvidos em obras clássicas dos chamados "mestres" do passado. "Eles estão mortos!" - dirão uns; "são de outros tempos" - afirmarão outros. Os mais lúcidos, entretanto, redarguirão sem vacilar: "Eles vivem! O que pode ser mais atual do que Maquiavel ao se observar o poder?! O que pode ser mais atual do que o conflito por que passa Macbeth, de Shakespeare, ao se defrontar com a grande oportunidade de ser aclamado 'rei'?!"
Há também um valor equivocado atribuído a tais obras. Para alguns, as histórias e tratados filosóficos do passado têm a importância de servirem meramente como forma de demonstrar erudição. Isso é o mesmo que se vangloriar de carregar uma chave de ouro de um baú cujos tesouros são incalculáveis, sendo que a chave possui, na verdade, valor ínfimo se comparada a qualquer outro objeto contido na arca. Outros desprezam-nas e seguem suas vidas sem saber que muitos de seus conflitos e indagações ilustram passagens fantásticas da vida de guerreiros, reis e outras personagens imaginárias.
Utilizando de metáfora, algo tão ao gosto das fábulas: enquanto existem os que têm o tesouro e o ignoram, outros, tendo-o ao alcance de si, contentam-se só em mostrá-lo, iludidos com seu brilho.
Encontram-se hoje tantas obras à mão, por que ignorá-las?
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