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9 de set. de 2011

CASTRO ALVES - ESPUMAS FLUTUANTES

QUADRO SINÓPTICO E COLETÂNEA PARA O ESTUDO DA OBRA
“ESPUMAS FLUTUANTES” DE CASTRO ALVES


Castro Alves – “Poeta dos Escravos”

- 1847 – 1871 (24 anos)

- Bahia – Recife – São Paulo

- Eugênia Câmara (atriz portuguesa)



- Obras: “Espumas Flutuantes” (1870)

“Os Escravos” (obra póstuma)



- Momento Histórico:



- 2º Império

- Disseminação de Ideias: - Republicana e Abolicionistas

- Proibição do Tráfico de Escravos



- Características de sua Obra:



- Conteúdo:



- Poesia de Fundo Cívico e Social

- Causas Coletivas

- Temática Épica

- Escravidão, Injustiça, Liberdade

- Progresso (um plano divino)

- Papel Libertador da Imprensa



- Amor e Morte (Lirismo)

- Erotismo e Sensualidade

- Poeta Romântico (Precito)

- Inocência

- Dedicatórias



- Linguagem:



- Imagética Condoreira (fanopeia)

- Oratória Enfática e Messiânica

- Caráter Declamatório

- Grandiloquência

- Pendor Cósmico

- Hipérboles

- Antíteses

- Alternância entre Micro e Macro

- Intertextualidade

- Epígrafes

-Traduções













ESPUMAS FLUTUANTES



PRÓLOGO



Era por uma dessas tardes em que o azul do céu oriental — é pálido e saudoso, em que o rumor do vento nas vergas — é monótono e cadente, e o quebro da vaga na amurada do navio — é queixoso e tétrico.

Das bandas do ocidente o sol se atufava nos mares como um brigue em chamas..." e daquele vasto incêndio do crepúsculo alastrava-se a cabeça loura das ondas.

Além... os cerros de granito dessa formosa terra de Guanabara, vacilantes, a lutarem com a onda invasora de azul, que descia das alturas... recortavam-se indecisos na penumbra do horizonte.

Longe, inda mais longe... os cimos fantásticos da serra dos Órgãos embebiam-se na distância, sumiam-se, abismavam-se numa espécie de naufrágio celeste.

Só e triste, encostado à borda do navio, eu seguia com os olhos aquele esvaecimento indefinido e minha alma apegava-se à forma vacilante das montanhas — derradeiras atalaias dos meus arraiais da mocidade.

É que lá, dessas terras do sul, para onde eu levara o fogo de todos os entusiasmos, o viço de todas as ilusões, os meus vinte anos de seiva e de mocidade, as minhas esperanças de glória e de futuro;... é que dessas terras do sul, onde eu penetrara "como o moço Rafael subindo as escadas do Vaticano";... volvia agora silencioso e alquebrado... trazendo por única ambição-a esperança de repouso em minha pátria.

Foi então que, em face destas duas tristezas — a noite que descia dos céus, a solidão que subia do oceano, recordei-me de vós, ó meus amigos!

E tive pena de lembrar que em breve nada restaria do peregrino na terra hospitaleira, onde vagara; nem sequer a lembrança desta alma, que convosco e por vós vivera e sentira, gemera e cantara...

Ó espíritos errantes sobre a terra! Ó velas enfunadas sobre os mares!... Vós bem sabeis quanto sois efêmeros... — passageiros que vos absorveis no espaço escuro, ou no escuro esquecimento.

E quando-comediantes do infinito— vos obumbrais nos bastidores do abismo, o que resta de vós?

— Uma esteira de espumas... — flores perdidas na vasta indiferença do oceano.— Um punhado de versos... — espumas flutuantes no dorso fero da vida!...

E o que são na verdade estes meus cantos?...

Como as espumas, que nascem do mar e do céu, da vaga e do vento, eles são filhos da musa-este sopro do alto: do coração — este pélago da alma.

E como as espumas são, às vezes, a flora sombria da tempestade, eles por vezes rebentaram ao estalar fatídico do látego da desgraça

E como também o aljofre dourado das espumas reflete as opalas, rutilantes do arco-íris, eles por acaso refletiram o prisma fantástico da ventura ou do entusiasmo — estes signos brilhantes da aliança de Deus com a juventude!

Mas, como as espumas flutuantes levam, boiando nas solidões marinhas, a lágrima saudosa do marujo... possam eles, ó meus amigos! — efêmeros filhos de minh'alma – levar uma lembrança de mim às vossas plagas!



CASTRO ALVES

Curralinho,

1 de junho de 1870.



 
DEDICATÓRIA



A pomba d'aliança o vôo espraia

Na superfície azul do mar imenso,

Rente... rente da espuma já desmaia

Medindo a curva do horizonte extenso...

Mas um disco se avista ao longe... A praia

Rasga nitente o nevoeiro denso!...

O pouso! ó monte! ó ramo de oliveira!

Ninho amigo da pomba forasteira!...



Assim, meu pobre livro as asas larga

Neste oceano sem fim, sombrio, eterno...

O mar atira-lhe a saliva amarga,

O céu lhe atira o temporal de inverno...

O triste verga à tão pesada carga!

Quem abre ao triste um coração paterno?...

É tão bom ter por árvore-uns carinhos!

É tão bom de uns afetos — fazer ninhos!

Pobre órfão! Vagando nos espaços

Embalde às solidões mandas um grito!

Que importa? De uma cruz ao longe os braços

Vejo abrirem-se ao mísero precito...

Os túmulos dos teus dão-te regaços!



Ama-te a sombra do salgueiro aflito...

Vai, pois, meu livro! e como louro agreste

Traz-me no bico um ramo de... cipreste!









O LIVRO E A AMÉRICA



Talhado para as grandezas,

P'ra crescer, criar, subir,

O Novo Mundo nos músculos

Sente a seiva do porvir.



— Estatuário de colossos —

Cansado doutros esboços

Disse um dia Jeová:

"Vai, Colombo, abre a cortina

"Da minha eterna oficina...

"Tira a América de lá".



Molhado inda do dilúvio,

Qual Tritão descomunal,

O continente desperta

No concerto universal.

Dos oceanos em tropa

Um-traz-lhe as artes da Europa,



Outro — as bagas de Ceilão...

E os Andes petrificados,

Como braços levantados,

Lhe apontam para a amplidão.

Olhando em torno então brada:

"Tudo marcha!... O grande Deus!



As cataratas — p'ra terra,

As estrelas-para os céus

Lá, do pólo sobre as plagas,

O seu rebanho de vagas

Vai o mar apascentar...

Eu quero marchar com os ventos,



Com os mundos... co'os firmamentos!!!

E Deus responde — "Marchar!"

"Marchar!... Mas como?... Da Grécia

Nos dóricos Partenons

A mil deuses levantando

Mil marmóreos Panteons?...



Marchar cota espada de Roma

— Leoa de ruiva coma

De presa enorme no chão,

Saciando o ódio profundo...

— Com as garras nas mãos do mundo,

— Com os dentes no coração?...



"Marchar!... Mas como a Alemanha

Na tirania feudal,

Levantando uma montanha

Em cada uma catedral?...



Não!... Nem templos feitos de ossos,



Nem gládios a cavar fossos

São degraus do progredir...

Lá brada César morrendo:

"No pugilato tremendo

"Quem sempre vence é o porvir!'

Filhos do sec'lo das luzes!



Filhos da Grande nação!

Quando ante Deus vos mostrardes,

Tereis um livro na mão:

O livro — esse audaz guerreiro

Que conquista o mundo inteiro

Sem nunca ter Waterloo...



Eólo de pensamentos,

Que abrira a gruta dos ventos

Donde a Igualdade voou!...

Por uma fatalidade

Dessas que descem de além,

O sec'lo, que viu Colombo,



Viu Guttenberg também.

Quando no tosco estaleiro

Da Alemanha o velho obreiro

A ave da imprensa gerou...

O Genovês salta os mares...

Busca um ninho entre os palmares



E a pátria da imprensa achou...

Por isso na impaciência

Desta sede de saber,

Como as aves do deserto —

As almas buscam beber...

Oh! Bendito o que semeia



Livros... livros à mão cheia...

E manda o povo pensar!

O livro caindo n'alma

É germe-que faz a palma,

É chuva-que faz o mar.

Vós, que o templo das idéias



Largo — abris às multidões,

P'ra o batismo luminoso

Das grandes revoluções,

Agora que o trem de ferro

Acorda o tigre no cerro

E espanta os caboclos nus,



Fazei desse "rei dos ventos"

— Ginete dos pensamentos,

— Arauto da grande luz!...

Bravo! a quem salva o futuro

Fecundando a multidão!...

Num poema amortalhada



Nunca morre uma nação.

Como Goethe moribundo



Brada "Luz!" o Novo Mundo

Num brado de Briaréu...

Luz! pois, no vale e na serra...



Que, se a luz rola na terra,

Deus colhe gênios no céu! ...



HEBREIA



Pomba d'esp'rança sobre um mar d'escolhos!

Lírio do vale oriental, brilhante!

Estrela vésper do pastor errante!



Ramo de murta a recender cheirosa!...

Tu és, ó filha de Israel formosa...

Tu és, ó linda, sedutora Hebréia...

Pálida rosa da infeliz Judéia

Sem ter o orvalho, que do céu deriva!

Por que descoras, quando a tarde esquiva



Mira-se triste sobre o azul das vagas?

Serão saudades das infindas plagas,

Onde a oliveira no Jordão se inclina?

Sonhas acaso, quando o sol declina,

A terra santa do Oriente imenso?

E as caravanas no deserto extenso?



E os pegureiros da palmeira à sombra?!...

Sim, fora belo na relvosa alfombra,

Junto da fonte, onde Raquel gemera,

Viver contigo qual Jacó vivera

Guiando escravo teu feliz rebanho..

Depois nas águas de cheiroso banho



— Como Susana a estremecer de frio—

Fitar-te, ó flor do babilônio rio,

Fitar-te a medo no salgueiro oculto...

Vem pois!... Contigo no deserto inculto,

Fugindo às iras de Saul embora,

Davi eu fora,-se Micol tu foras,



Vibrando na harpa do profeta o canto...

Não vês?... Do seio me goteja o pranto

Qual da torrente do Cédron deserto!...

Como lutara o patriarca incerto

Lutei, meu anjo, mas caí vencido.

Eu sou o lótus para o chão pendido.



Vem ser o orvalho oriental, brilhante!.

Ai! guia o passo ao viajor perdido,

Estrela vésper do pastor errante!...





AHASVERUS E O GÊNIO



Sabes quem foi Ahasverus?... — o precito,

O mísero Judeu, que tinha escrito

Na fronte o selo atroz!

Eterno viajor de eterna senda...



Espantado a fugir de tenda em tenda,

Fugindo embalde à vingadora voz!

Misérrimo! Correu o mundo inteiro,

E no mundo tão grande... o forasteiro

Não teve onde... pousar.

Co'a mão vazia-viu a terra cheia.



O deserto negou-lhe — o grão de areia.

A gota d'água — rejeitou-lhe o mar.

D'Asia as florestas - lhe negaram sombra

A savana sem fim - negou-lhe alfombra.

O chão negou-lhe o pó!...

Tabas, serralhos, tendas e solares...



Ninguém lhe abriu a porta de seus lares

E o triste seguiu só.

Viu povos de mil climas, viu mil raças,

E não pôde entre tantas populaças

Beijar uma só mão...

Desde a virgem do Norte à de Sevilhas,



Desde a inglesa à crioula das Antilhas

Não teve um coração!...

E caminhou!... E as tribos se afastavam

E as mulheres tremendo murmuravam

Com respeito e pavor.

Ai! Fazia tremer do vale à serra...



Ele que só pedia sobre a terra

— Silêncio, paz e amor! —

No entanto à noite, se o Hebreu passava,

Um murmúrio de inveja se elevava,

Desde a flor da campina ao colibri.



"Ele não morre", a multidão dizia...

E o precito consigo respondia:

— "Ai! mas nunca vivi!" —



O Gênio é como Ahasverus... solitário

A marchar, a marchar no itinerário



Sem termo do existir.

Invejado! a invejar os invejosos.

Vendo a sombra dos álamos frondosos...

E sempre a caminhar... sempre a seguir...

Pede u'a mão de amigo-dão-lhe palmas:

Pede um beijo de amor— e as outras almas



Fogem pasmas de si.

E o mísero de glória em glória corre...

Mas quando a terra diz: — "Ele não morre"

Responde o desgraçado:-"Eu não vivi!..."







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