ARCADISMO
Dados Históricos
- Segunda metade do século XVIII
- Surgimento do Iluminismo
- Valorização da Razão (Cientificismo)
- Enciclopedistas
- Anticlericalismo
- Marquês de Pombal
- Expulsão dos Jesuítas do Brasil
- Exploração do Ouro nas Minas Gerais
- Independência dos EUA
- Inconfidência Mineira
- Revolução Industrial
- Combate ao Absolutismo
- Revolução Francesa
- Arcádia Romana (“pastores”)
- Arcádia Lusitana
- Arcádia Ultramarina (Brasil)
Fundamentos Estéticos
Quanto ao conteúdo:
- Arcádia
- Bucolismo
- Movimento Apolíneo
- Mitologia Greco-Romana
- Fingimento Poético
- Poeta – pintor de situações (Horácio)
- Inutilia Truncat
- Aurea Mediocritas
- Fugere Urbem
- Locus Amoenus
- Carpe Diem
- Efemeridade da Vida
- Mito do “Bom Selvagem”
Quanto à forma:
- Poema
- Simplificação da Linguagem
- Metrificação
- Rimas e Versos Brancos
- Poemas Épicos
- Éclogas
- Liras
- Sonetos
Autores
- Frei Santa Rita Durão (1722-1784). Poema Épico: Caramuru
- Cláudio Manuel da Costa
Obras poéticas (1768) e Vila Rica (1837)
- Basílio da Gama (1741-1795). Poema Épico: O Uraguai
- Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810), autor de Marília de Dirceu e Cartas Chilenas
Marília de Dirceu
Dirceu – Tomás Antônio Gonzaga
Marília – Maria Doroteia Joaquina de Seixas
“Ciclo de Marília” Marília (1)
Dirceu (2)
(1) Retratos da Amada:
- Convenções da Época: Beleza + Moral
(1) Ambientação:
- Cenário Bucólico (Sítio Ameno)
(1) Caminhos do Amor:
- Apresenta-se a concepção do Amor e os desejos do pastor em relação à amada
(2) Retratos do Amado:
- Densidade Psicológica *
- Características Físicas
(2) Ambientação:
- Triste Masmorra
(2) Caminhos da Liberdade:
- Amor e Liberdade (Dimensão Universal)
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Temas : Ormias, Lídaras, Nises, Alteias
- Ode em Honra da Rainha
Características da Obra:
Rococó: mulher, intimismo, feminilidade,
delicadeza, prazer, lascívia,
hedonismo.
Arcadismo: conceitos filosóficos, equilíbrio.
Pré-Romantismo: paisagem local,
subjetividade de Dirceu.
Lira XXVII
Cupido tirando
Dos ombros a aljava
Num campo de flores
Contente brincava.
E o corpo tenrinho
Depois, enfadado,
Incauto reclina
Na relva do prado.
Marília formosa,
Que ao Deus conhecia,
Oculta espreitava
Quanto ele fazia.
Mal julga que dorme
Se chega contente,
As armas lhe furta,
E o Deus a não sente.
Os Faunos, mal viram
As armas roubadas,
Saíram das grutas
Soltando risadas.
Acorda Cupido,
E a causa sabendo,
A quantos o insultam
Responde, dizendo:
"Temíeis as setas
"Nas minhas mãos cruas!
"Vereis o que podem
"Agora nas suas."
Lira I, parte 1
Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,
Que viva de guardar alheio gado,
De tosco trato, de expressões grosseiro,
Dos frios gelos e dos sóis queimado.
Tenho próprio casal e nele assisto;
Dá-me vinho, legume, fruta, azeite;
Das brancas ovelhinhas tiro o leite,
E mais as finas lãs, de que visto.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!
Eu vi o meu semblante numa fonte,
Dos anos inda não está cortado;
Os Pastores, que habitam este monte,
Respeitam o poder do meu cajado.
Com tal destreza toco a sanfoninha,
Que inveja até me tem o próprio Alceste:
Ao som dela concerto a voz celeste
Nem canto letra que não seja minha.
Lira XII, parte 2
... Quando levares, Marília,
Teu ledo rebanho ao prado,
Tu dirás: Aqui trazia
Dirceu também o seu gado.
Verás os sítios ditosos
Onde, Marília, te dava
Doces beijos amorosos
Nos dedos da branca mão.
Mandarás aos surdos Deuses
Novos suspiros em vão.
Quando à janela saíres,
Sem quereres, descuidada,
Tu verás, Marília, a minha
E minha pobre morada.
Tu dirás então contigo:
Ali Dirceu esperava
Para me levar consigo;
E ali sofreu a prisão.
Mandarás aos surdos Deuses
Novos suspiros em vão.
Lira XV, parte 2
Eu, Marília, não fui nenhum Vaqueiro,
Fui honrado Pastor da tua Aldeia;
Vestia finas lãs e tinha sempre
A minha choça do preciso cheia.
Tiraram-me o casal e o manso gado,
Nem tenho, a que me encoste, um só cajado.
Para ter que te dar, é que eu queria
De mor rebanho ainda ser o dono;
Prezava o teu semblante, os teus cabelos
Ainda muito mais que um grande Trono.
Agora que te oferte já não vejo,
Além de um puro amor, de um são desejo.
Lira XIV – parte 1
Minha bela Marília, tudo passa;
A sorte deste mundo é mal segura;
Se vem depois dos males a ventura,
Vem depois dos prazeres a desgraça
Estão os mesmos deuses
Sujeitos ao poder do ímpio Fado:
Apolo já fugiu do Céu brilhante,
Já foi Pastor de gado.
(...)
Ah! Enquanto os destinos impiedosos
Não voltam contra nós a face irada,
Façamos, sim, façamos, doce amada,
Nossos breves dias mais ditosos.
Um coração, que, frouxo,
A grata posse de seu bem difere
A si, Marília, a si próprio rouba,
A si próprio fere.
Ornemos nossas testas com flores
E façamos de feno um brando leito
Prendamo-nos, Marília, em laço estreito,
Gozemos do prazer de sãos Amores.
Sobre as nossas cabeças,
Sem que o possam deter o tempo corre;
E para nós o tempo, que passa,
Também, Marília, morre.
Lira III – parte 3
Tu não verás, Marília, cem cativos
Tirarem o cascalho, e a rica, terra,
Ou dos cercos dos rios caudalosos,
Ou da minada serra.
Não verás separar ao hábil negro
Do pesado esmeril a grossa areia,
E já brilharem os granetes de ouro
No fundo da bateia.
Não verás derrubar os virgens matos;
Queimar as capoeiras ainda novas;
Servir de adubo à terra a fértil cinza;
Lançar os grãos nas covas.
Lira XIX – parte 2
Nesta triste masmorra,
De um semivivo corpo sepultura,
Inda, Marília, adoro
A tua formosura.
Amor na minha ideia te retrata;
Busca extremoso, que eu assim resista
À dor imensa, que me cerca, e mata.
Quando em eu mal pondero,
Então mais vivamente te diviso:
Vejo o teu rosto, e escuto
A tua voz, e riso.
Movo ligeiro para o vulto os passos;
Eu beijo a tíbia luz em vez de face;
E aperto sobre o peito em vão os braços.
Lira II – parte 2
Esprema a vil calúnia muito embora
Enter as mãos denegridas, e insolentes,
Os venenos das plantas,
E das bravas serpentes.
Chovam raios e raios, no meu rosto
Não hás de ver, Marília, o medo escrito:
O medo perturbador,
Que infunde o vil delito.
Podem muito, conheço, podem muito,
As fúrias infernais, que Pluto move;
Mas pode mais que todas
Um dedo só de Jove.
Este Deus converteu em flor mimosa,
A quem seu nome dera, a Narciso;
Fez de muitos os Astros,
Qu'inda no Céu diviso.
Ele pode livrar-me das injúrias
Do néscio, do atrevido ingrato povo;
Em nova flor mudar-me,
Mudar-me em Astro novo.
Porém se os justos Céus, por fins ocultos,
Em tão tirano mal me não socorrem;
Verás então, que os sábios,
Bem como vivem, morrem.
Eu tenho um coração maior que o mundo!
Tu, formosa Marília, bem o sabes:
Um coração..., e basta,
Onde tu mesma cabes.
Lira XXVI
Alexandre, Marília, qual o rio,
Que engrossando no inverno tudo arrasa,
Na frente das coortes
Cerca, vence, abrasa
As cidades mais fortes.
Foi na glória das armas o primeiro;
Morreu na flor dos anos, e já tinha
Vencido o mundo inteiro.
Mas este bom soldado, cujo nome
Não há poder algum, que não abata,
Foi, Marília, somente
Um ditoso pirata,
Um salteador valente.
Se não tem uma fama baixa, e escura,
Foi por se pôr ao lado da injustiça
A insolente ventura.
O grande César, cujo nome voa,
À sua mesma Pátria a fé quebranta;
Na mão a espada toma,
Oprime-lhe a garganta,
Dá Senhores a Roma.
Consegue ser herói por um delito;
Se acaso não vencesse, então seria
Um vil traidor proscrito.
O ser herói, Marília, não consiste
Em queimar os Impérios: move a guerra,
Espalha o sangue humano,
E despovoa a terra
Também o mau tirano.
Consiste o ser herói em viver justo:
E tanto pode ser herói pobre,
Como o maior Augusto.
Eu é que sou herói, Marília bela,
Segundo da virtude a honrosa estrada:
Ganhei, ganhei um trono,
Ah! não manchei a espada,
Não roubei ao dono.
Ergui-o no teu peito, e nos teus braços:
E valem muito mais que o mundo inteiro
Uns tão ditosos laços.
Aos bárbaros, injustos vencedores
Atormentam remorsos, e cuidados;
Nem descansam seguros
Nos palácios cercados
De tropa, e de altos muros.
E a quantos nos não mostra a sábia história
A quem mudou o Fado em negro opróbrio
A mal ganhada glória.
Eu vivo, minha Bela, sim, eu vivo
Nos braços do descanso, e mais do gosto:
Quando estou acordado
Contemplo no teu rosto
De graças adornado:
Se durmo, logo sonho, e ali te vejo.
Ah! nem desperto, nem dormindo sobe
A mais o meu desejo.
Lira XXIV – parte 2
Eu vou, Marília, vou brigar co'as feras!
Uma soltaram, eu lhe sinto os passos;
Aqui, aqui a espero
Nestes despidos braços.
É um malhado tigre: a mim já corre,
Ao peito o aperto, estalam-lhe as costelas,
Desfalece, cai, urra, treme, e morre.
Vem agora um Leão: sacode a grenha,
Com faminta paixão a mim se lança;
Venha embora; que o pulso
Ainda não se cansa.
Oprimo-lhe a garganta, a língua estira,
O corpo lhe fraqueia, os olhos incham,
Açoita o chão convulso, arqueja, e expira.
Mas que vejo, Marília! Tu te assustas?
Entendes que os destinos inumanos
Expõem a minha vida
No circo dos Romanos?
Com ursos, e com onças eu não luto:
Luto c'o bravo monstro, que me acusa,
Que os tigres, e leões mais fero e bruto.
Embora contra mim raivoso esgrima
Da vil calúnia a cortadora espada;
Uma alma, qual eu tenho,
Não se receia a nada.
Eu hei de, sim, punir-lhe a insolência,
Pisar-lhe o negro colo, abrir-lhe o peito
Co'as armas invencíveis da inocência.
Ah! quando imaginar, que vingativo
Mando que desça ao Tártaro profundo,
Hei de com mão honrada
Erguer-lhe o corpo imundo.
Eu então lhe direi: "Infame, indigno,
"Obras como costuma o vil humano;
"Faço, o que faz um coração divino."
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