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19 de jul. de 2011

Romantismo

ROMANTISMO



Dados Históricos:

- Século XIX

- Primavera dos Povos

- Independência do Brasil

- Revolução Industrial

- Goethe e Schiller (Identidade Alemã)

- Mcpherson (Ossianismo Inglês)

- Lord Byron (Byronismo)

- Mal do Século

- Victor Hugo (França)





Dados Literários:



Quanto à forma:



- Liberdade Formal

- Utilização de Versos Brancos e Livres

- Musicalidade (não obrigatória)



Quanto ao conteúdo:



- Sturm und Drang (Tempestade e Ímpeto)

- Nacionalismo (Medievalismo – Europa)

- Nacionalismo (Indianismo – Brasil)

- Ufanismo

- Idealismo / Idealização

- Idealização da Mulher

- Pessimismo

- Evasão pela Morte

- Egocentrismo

- Subjetividade

- Natureza - Reflexo do Estado Interior do Poeta

- Morbidez

- Abolicionismo



- Primeira Fase: Nacionalista ou Indianista



- Segunda Fase: Byroniana ou Ultrarromântica



- Terceira Fase: Social ou Condoreira





Autores:



- Gonçalves de Magalhães

- Gonçalves Dias

- José de Alencar

- Casimiro de Abreu

- Fagundes Varela

- Álvares de Azevedo

- Bernardo de Guimarães

- Junqueira Freire

- Joaquim de Sousândrade

- Tobias Barreto

- Castro Alves

- Martins Pena

- Manuel Antônio de Almeida

- Joaquim Manuel de Macedo

- Franklin Távora

- Visconde de Taunay


Textos para análise:

Antônio Gonçalves Dias




Canção do Tamoio

(Natalícia)



Não chores, meu filho;

Não chores, que a vida

É luta renhida:

Viver é lutar.



A vida é combate,

Que os fracos abate,

Que os fortes, os bravos

Só pode exaltar.



Um dia vivemos!

O homem que é forte

Não teme da morte;

Só teme fugir;



No arco que entesa

Tem certa uma presa,

Quer seja tapuia,

Condor ou tapir.



O forte, o cobarde

Seus feitos inveja

De o ver na peleja

Garboso e feroz;



E os tímidos velhos

Nos graves concelhos,

Curvadas as frontes,

Escutam-lhe a voz!



Domina, se vive;

Se morre, descansa

Dos seus na lembrança,

Na voz do porvir.



Não cures da vida!

Sê bravo, sê forte!

Não fujas da morte,

Que a morte há de vir!



E pois que és meu filho,

Meus brios reveste;

Tamoio nasceste,

Valente serás.



Sê duro guerreiro,

Robusto, fragueiro,

Brasão dos tamoios

Na guerra e na paz.



Teu grito de guerra

Retumbe aos ouvidos

D'imigos transidos

Por vil comoção;



E tremam d'ouvi-lo

Pior que o sibilo

Das setas ligeiras,

Pior que o trovão.



E as mães nessas tabas,

Querendo calados

Os filhos criados

Na lei do terror;



Teu nome lhes diga,

Que a gente inimiga

Talvez não escute

Sem pranto, sem dor!



Porém se a fortuna,

Traindo teus passos,

Te arroja nos laços

Do inimigo falaz!



Na última hora

Teus feitos memora,

Tranqüilo nos gestos,

Impávido, audaz.



E cai como o tronco

Do raio tocado,

Partido, rojado

Por larga extensão;



Assim morre o forte!

No passo da morte

Triunfa, conquista

Mais alto brasão.



As armas ensaia,

Penetra na vida:

Pesada ou querida,

Viver é lutar.



Se o duro combate

Os fracos abate,

Aos fortes, aos bravos,

Só pode exaltar.





Canto do Piaga



Ó GUERREIROS da Taba sagrada,

Ó Guerreiros da Tribo Tupi,

Falam Deuses nos cantos do Piaga,

Ó Guerreiros, meus cantos ouvi.

Esta noite - era a lua já morta -

Anhangá me vedava sonhar;

Eis na horrível caverna, que habito,

Rouca voz começou-me a chamar.

Abro os olhos, inquieto, medroso,

Manitôs! que prodígios que vi

Arde o pau de resina fumosa,

Não fui eu, não fui eu, que o acendi!

Eis rebenta a meus pés um fantasma,

Um fantasma d'imensa extensão;

Liso crânio repousa a meu lado,

Feia cobra se enrosca no chão.

O meu sangue gelou-se nas veias,

Todo inteiro - ossos, carnes - tremi,

Frio horror me coou pelos membros,

Frio vento no rosto senti.

Era feio, medonho, tremendo,

Ó Guerreiros, o espectro que eu vi.

Falam Deuses nos cantos do Piaga,

Ó Guerreiros, meus cantos ouvi!



(...)



Oh! quem foi das entranhas das águas,

O marinho arcabouço arrancar?

Nossas terras demanda, fareja...

Esse monstro... - o que vem cá buscar?

Não sabeis o que o monstro procura?

Não sabeis a que vem, o que quer?

Vem matar vossos bravos guerreiros,

Vem roubar-vos a filha, a mulher!

Vem trazer-vos crueza, impiedade -

Dons cruéis do cruel Anhangá;

Vem quebrar-vos a maça valente,

Profanar Manitôs, Maracás.

Vem trazer-vos algemas pesadas,

Com que a tribo Tupi vai gemer;

Hão-de os velhos servirem de escravos

Mesmo o Piaga inda escravo há de ser?

Fugireis procurando um asilo,

Triste asilo por ínvio sertão;

Anhangá de prazer há de rir-se,

Vendo os vossos quão poucos serão.

Vossos Deuses, ó Piaga, conjura,

Susta as iras do fero Anhangá.

Manitôs já fugiram da Taba,

Ó desgraça! ó ruína!! ó Tupá!





Casimiro de Abreu



Amor e Medo

Quando eu te vejo e me desvio cauto

Da luz de fogo que te cerca, ó bela,

Contigo dizes, suspirando amores:

— "Meu Deus! que gelo, que frieza aquela!"

Como te enganas! meu amor, é chama

Que se alimenta no voraz segredo,

E se te fujo é que te adoro louco...

És bela — eu moço; tens amor, eu — medo...

Tenho medo de mim, de ti, de tudo,

Da luz, da sombra, do silêncio ou vozes.

Das folhas secas, do chorar das fontes,

Das horas longas a correr velozes.

O véu da noite me atormenta em dores

A luz da aurora me enternece os seios,

E ao vento fresco do cair das tardes,

Eu me estremece de cruéis receios.

É que esse vento que na várzea — ao longe,

Do colmo o fumo caprichoso ondeia,

Soprando um dia tornaria incêndio

A chama viva que teu riso ateia!

Ai! se abrasado crepitasse o cedro,

Cedendo ao raio que a tormenta envia:

Diz: — que seria da plantinha humilde,

Que à sombra dela tão feliz crescia?

A labareda que se enrosca ao tronco

Torrara a planta qual queimara o galho

E a pobre nunca reviver pudera.

Chovesse embora paternal orvalho!

Ai! se te visse no calor da sesta,

A mão tremente no calor das tuas,

Amarrotado o teu vestido branco,

Soltos cabelos nas espáduas nuas! ...

Ai! se eu te visse, Madalena pura,

Sobre o veludo reclinada a meio,

Olhos cerrados na volúpia doce,

Os braços frouxos — palpitante o seio!...

Ai! se eu te visse em languidez sublime,

Na face as rosas virginais do pejo,

Trêmula a fala, a protestar baixinho...

Vermelha a boca, soluçando um beijo!...

Diz: — que seria da pureza de anjo,

Das vestes alvas, do candor das asas?

Tu te queimaras, a pisar descalça,

Criança louca — sobre um chão de brasas!

No fogo vivo eu me abrasara inteiro!

Ébrio e sedento na fugaz vertigem,

Vil, machucara com meu dedo impuro

As pobres flores da grinalda virgem!

Vampiro infame, eu sorveria em beijos

Toda a inocência que teu lábio encerra,

E tu serias no lascivo abraço,

Anjo enlodado nos pauis da terra.

Depois... desperta no febril delírio,

— Olhos pisados — como um vão lamento,

Tu perguntaras: que é da minha coroa?...

Eu te diria: desfolhou-a o vento!...

Oh! não me chames coração de gelo!

Bem vês: traí-me no fatal segredo.

Se de ti fujo é que te adoro e muito!

És bela — eu moço; tens amor, eu — medo!...

Meus oito anos

Oh! que saudades que tenho

Da aurora da minha vida,

Da minha infância querida

Que os anos não trazem mais!

Que amor, que sonhos, que flores,

Naquelas tardes fagueiras

À sombra das bananeiras,

Debaixo dos laranjais!

Como são belos os dias

Do despontar da existência!

- Respira a alma inocência

Como perfumes a flor;

O mar - é lago sereno,

O céu - um manto azulado,

O mundo - um sonho dourado,

A vida - um hino d'amor!

Que aurora, que sol, que vida,

Que noites de melodia

Naquela doce alegria,

Naquele ingênuo folgar!

O céu bordado d'estrelas,

A terra de aromas cheia

As ondas beijando a areia

E a lua beijando o mar!

Oh! dias da minha infância!

Oh! meu céu de primavera!

Que doce a vida não era

Nessa risonha manhã!

Em vez das mágoas de agora,

Eu tinha nessas delícias

De minha mãe as carícias

E beijos de minhã irmã!

Livre filho das montanhas,

Eu ia bem satisfeito,

Da camisa aberta o peito,

- Pés descalços, braços nus -

Correndo pelas campinas

A roda das cachoeiras,

Atrás das asas ligeiras

Das borboletas azuis!

Naqueles tempos ditosos

Ia colher as pitangas,

Trepava a tirar as mangas,

Brincava à beira do mar;

Rezava às Ave-Marias,

Achava o céu sempre lindo.

Adormecia sorrindo

E despertava a cantar!

Oh! que saudades que tenho

Da aurora da minha vida,

Da minha infância querida

Que os anos não trazem mais!

- Que amor, que sonhos, que flores,

Naquelas tardes fagueiras

A sombra das bananeiras

Debaixo dos laranjais!


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Romantismo – Trechos Escolhidos




Trecho A



“Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá;

As aves que aqui gorjeiam,

Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,

Nossas várzeas têm mais flores,

Nossos bosques têm mais-vida,

Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,

Mais prazer encontro eu lá;

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,

Que tais não encontro eu cá;

Em cismar - sozinho, à noite -

Mais prazer encontro eu lá,

Minha terra tem palmeiras

Onde canta o Sabiá

Não permita Deus que eu morra,

Sem que eu volte para lá;

Sem que desfrute os primores

Que não encontro por cá,

Sem qu’inda aviste as palmeiras,

Onde canta o sabiá.”



- Gonçalves Dias



Trecho B



"Já sinto a geada dos sepulcros

o pavoroso frio enregelar-me...

A campa vejo aberta e lá no fundo

Um esqueleto em pé vejo acenar-me..

Entremos. Deve haver nestes lugares

mudança grave na mundana sorte;

Quem sempre a morte achou no lar da vida,

Deve a vida encontrar no lar da morte.”



- Laurindo Rabelo

Trecho C

"Não achei na vida amores

Que merecessem os meus.

Não tenho um ente no mundo

A quem diga o meu - adeus.

Não posso da vida à campa

Transportar uma saudade.

Cerro meus olhos contente

Sem um ai de ansiedade.

Por isso, ó morte, eu amo-te e não temo:

Por isso, ó morte, eu quero-te comigo.

Leva-me à região da paz horrenda

Leva-me ao nada, leva-me contigo."



- Junqueira Freire





Álvares de Azevedo



Lembrança de morrer



No more! o never more!

SHELLEY.



Quando em meu peito rebentar-se a fibra

Que o espírito enlaça à dor vivente,

Não derramem por mim nem uma lágrima

Em pálpebra demente.



E nem desfolhem na matéria impura

A flor do vale que adormece ao vento:

Não quero que uma nota de alegria

Se cale por meu triste passamento.



Eu deixo a vida como deixa o tédio

Do deserto, o poento caminheiro

— Como as horas de um longo pesadelo

Que se desfaz ao dobre de um sineiro;



Como o desterro de minh'alma errante,

Onde fogo insensato a consumia:

Só levo uma saudade — é desses tempos

Que amorosa ilusão embelecia.



Só levo uma saudade — é dessas sombras

Que eu sentia velar nas noites minhas...

De ti, ó minha mãe, pobre coitada

Que por minha tristeza te definhas!



De meu pai... de meus únicos amigos,

Poucos — bem poucos — e que não zombavam

Quando, em noite de febre endoudecido,

Minhas pálidas crenças duvidavam.



Se uma lágrima as pálpebras me inunda,

Se um suspiro nos seios treme ainda

É pela virgem que sonhei... que nunca

Aos lábios me encostou a face linda!



Só tu à mocidade sonhadora

Do pálido poeta deste flores...

Se viveu, foi por ti! e de esperança

De na vida gozar de teus amores.



Beijarei a verdade santa e nua,

Verei cristalizar-se o sonho amigo....

Ó minha virgem dos errantes sonhos,

Filha do céu, eu vou amar contigo!



Descansem o meu leito solitário

Na floresta dos homens esquecida,

À sombra de uma cruz, e escrevam nelas

— Foi poeta — sonhou — e amou na vida.—



Sombras do vale, noites da montanha

Que minh'alma cantou e amava tanto,

Protegei o meu corpo abandonado,

E no silêncio derramai-lhe canto!



Mas quando preludia ave d'aurora

E quando à meia-noite o céu repousa,

Arvoredos do bosque, abri os ramos...

Deixai a lua prantear-me a lousa!



A lagartixa



A lagartixa ao sol ardente vive

E fazendo verão o corpo espicha:

O clarão de teus olhos me dá vida,

Tu és o sol e eu sou a lagartixa.



Amo-te como o vinho e como o sono,

Tu és meu copo e amoroso leito...

Mas teu néctar de amor jamais se esgota,

Travesseiro não há como teu peito.



Posso agora viver: para coroas

Não preciso no prado colher flores;

Engrinaldo melhor a minha fronte

Nas rosas mais gentis de teus amores



Vale todo um harém a minha bela,

Em fazer-me ditoso ela capricha...

Vivo ao sol de seus olhos namorados,

Como ao sol de verão a lagartixa.



É ela! É ela! É ela! É ela!



É ela! É ela! - murmurei tremendo,

E o eco ao longe murmurou - é ela!

Eu a vi... minha fada aérea e pura -

A minha lavadeira na janela!

Dessas águas-furtadas onde eu moro

Eu a vejo estendendo no telhado

Os vestidos de chita, as saias brancas;

Eu a vejo e suspiro enamorado!

Esta noite eu ousei mais atrevido

Nas telhas que estalavam nos meus passos

Ir espiar seu venturoso sono,

Vê-la mais bela de Morfeu nos braços!

Como dormia! Que profundo sono!...

Tinha na mão o ferro do engomado...

Como roncava maviosa e pura!...

Quase caí na rua desmaiado!

Afastei a janela, entrei medroso...

Palpitava-lhe o seio adormecido...

Fui beijá-la... roubei do seio dela

Um bilhete que estava ali metido...

Oh! de certo... (pensei) é doce página

Onde a alma derramou gentis amores;

São versos dela... que amanhã de certo

Ela me enviará cheios de flores...

Tremi de febre!

Venturosa folha!

Quem pousasse contigo neste seio!

Como Otelo beijando a sua esposa,

Eu beijei-a a tremer de devaneio...

É ela! É ela! - repeti tremendo;

Mas cantou nesse instante uma coruja...

Abri cioso a página secreta...

Oh! Meu Deus! Era um rol de roupa suja!

Mas se Werther morreu por ver Carlota

Dando pão com manteiga às criancinhas

Se achou-a assim mais bela - eu mais te adoro

Sonhando-te a lavar as camizinhas!

É ela! É ela! meu amor, minh'alma,

A Laura, a Beatriz que o céu revela...

É ela! É ela! - murmurei tremendo,

E o eco ao longe suspirou - é ela!





O NAVIO NEGREIRO - Castro Alves - 1868



(versos escolhidos)

I



Donde vem? Aonde vai? Das naus errantes Quem sabe o rumo se é tão grande o espaço? Neste Saara os corcéis o pó levantam, Galopam, voam, mas não deixam traço.

Bem feliz quem ali pode nest'hora Sentir deste painel a majestade! Embaixo — o mar em cima — o firmamento... E no mar e no céu — a imensidade!

III



Desce do espaço imenso, ó águia do oceano! Desce mais ... inda mais... não pode olhar humano Como o teu mergulhar no brigue voador! Mas que vejo eu aí... Que quadro d'amarguras! É canto funeral! ... Que tétricas figuras! ... Que cena infame e vil... Meu Deus! Meu Deus! Que horror!



IV



Era um sonho dantesco... o tombadilho Que das luzernas avermelha o brilho. Em sangue a se banhar. Tinir de ferros... estalar de açoite... Legiões de homens negros como a noite, Horrendos a dançar...

E ri-se a orquestra irônica, estridente... E da ronda fantástica a serpente Faz doudas espirais ... Se o velho arqueja, se no chão resvala, Ouvem-se gritos... o chicote estala. E voam mais e mais...

Presa nos elos de uma só cadeia, A multidão faminta cambaleia, E chora e dança ali! Um de raiva delira, outro enlouquece, Outro, que martírios embrutece, Cantando, geme e ri!

V



Senhor Deus dos desgraçados! Dizei-me vós, Senhor Deus! Se é loucura... se é verdade Tanto horror perante os céus?! Ó mar, por que não apagas Co'a esponja de tuas vagas De teu manto este borrão?... Astros! noites! tempestades! Rolai das imensidades! Varrei os mares, tufão!

São os filhos do deserto, Onde a terra esposa a luz. Onde vive em campo aberto A tribo dos homens nus... São os guerreiros ousados Que com os tigres mosqueados Combatem na solidão. Ontem simples, fortes, bravos. Hoje míseros escravos, Sem luz, sem ar, sem razão. . .

Ontem a Serra Leoa, A guerra, a caça ao leão, O sono dormido à toa Sob as tendas d'amplidão! Hoje... o porão negro, fundo, Infecto, apertado, imundo, Tendo a peste por jaguar... E o sono sempre cortado Pelo arranco de um finado, E o baque de um corpo ao mar...

Ontem plena liberdade, A vontade por poder... Hoje... cúm'lo de maldade, Nem são livres p'ra morrer. . Prende-os a mesma corrente — Férrea, lúgubre serpente — Nas roscas da escravidão. Senhor Deus dos desgraçados! Dizei-me vós, Senhor Deus, Se eu deliro... ou se é verdade Tanto horror perante os céus?!...



VI



Existe um povo que a bandeira empresta P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia! Auriverde pendão de minha terra, Que a brisa do Brasil beija e balança, Estandarte que a luz do sol encerra E as promessas divinas da esperança... Tu que, da liberdade após a guerra, Foste hasteado dos heróis na lança Antes te houvessem roto na batalha, Que servires a um povo de mortalha!...





Vozes d’África





Deus! ó Deus! onde estás que não respondes?

Em que mundo, em qu'estrela tu t'escondes

Embuçado nos céus?

Há dois mil anos te mandei meu grito,

Que embalde desde então corre o infinito...

Onde estás, Senhor Deus?...



Qual Prometeu tu me amarraste um dia

Do deserto na rubra penedia

— Infinito: galé! ...

Por abutre — me deste o sol candente,

E a terra de Suez — foi a corrente

Que me ligaste ao pé...

(...)



Hoje em meu sangue a América se nutre

Condor que transformara-se em abutre,

Ave da escravidão,

Ela juntou-se às mais... irmã traidora

Qual de José os vis irmãos outrora

Venderam seu irmão.

Basta, Senhor! De teu potente braço

Role através dos astros e do espaço

Perdão p'ra os crimes meus!

Há dois mil anos eu soluço um grito...

escuta o brado meu lá no infinito,

Meu Deus! Senhor, meu Deus!!...

São Paulo, 11 de junho de 1868
























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QUIZ: POR QUE OU POR QUÊ?

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