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9 de set. de 2011

GREGÓRIO DE MATOS - COLETÂNEA

Nasce o Sol, e não dura mais que um dia




Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,

Depois da Luz se segue a noite escura,

Em tristes sombras morre a formosura,

E em contínuas tristezas a alegria.



Porém se acaba o Sol, por que nascia?

Se formosa a Luz é, por que não dura?

Como a beleza assim se transfigura?

Como o gosto da pena assim se fia?



Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza,

Na formosura não se dê constância,

E na alegria sinta-se tristeza.



Começa o mundo enfim pela ignorância,

E tem qualquer dos bens por natureza

A firmeza somente na inconstância.





O todo sem a parte não é todo



O todo sem a parte não é todo;

A parte sem o todo não é parte;

Mas se a parte o faz todo sendo parte,

Não se diga que é parte, sendo o todo.



Em todo testamento está Deus todo,

E todo assiste inteiro em qualquer parte,

E feito em partes todo toda a parte,

Em qualquer parte sempre fica todo.



O braço de Jesus não seja parte,

Pois que feito em partes todo,

Assiste cada parte sem sua parte.



Não se sabendo parte deste todo,

Uma braço que lhe acharam, sendo parte,

Nos diz as partes todas deste todo





Anjo no nome, Angélica na cara



Anjo no nome, Angélica na cara,

Isso é ser flor e Anjo juntamente,

Ser Angélica flor, e Anjo florente,

Em quem, senão em vós se uniformara?



Quem vira uma tal flor, que a não cortara

De verde pé, de rama florescente?

E quem um Anjo vira tão luzente,

Que por seu Deus, o não idolatrara?



Se como Anjo sois dos meus altares,

Fôreis o meu custódio, e minha guarda,

Livrara eu de diabólicos azares.



Mas vejo, que tão bela, e tão galharda,

Posto que os Anjos nunca dão pesares,

Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda.





Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado



Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado,

Da vossa alta clemência me despido: (despedir)

Porque, quanto mais tenho delinqüido,

Vos tenho a perdoar mais empenhado.



Se basta a vós irar tanto pecado,

A abrandar-vos sobeja um só gemido:

Que a mesma culpa, que vos há ofendido,

Vos tem para o perdão lisonjeado.

Se uma ovelha perdida e já cobrada

Glória tal e prazer tão repentino

Vos deu, como afirmais na sacra história



Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada,

Cobrai-a; e não queirais, pastor divino,

Perder na vossa ovelha a vossa glória.





Casou-se nesta terra esta e aquele

Ao casamento de certo advogado com uma moça mal reputada.



Casou-se nesta terra esta e aquele.

Aquele um gozo filho de cadela,

Esta uma donzelíssima donzela,

Que muito antes do parto o sabia ele.



Casaram por unir pele com pele;

E tanto se uniram, que ele com ela

Com seu mau parecer ganha para ela,

com seu bom parecer ganha para ele.



Deram-lhe em dote muitos mil cruzados,

Excelentes alfaias, bons adornos,

De que estão os seus quartos bem ornados:



Por sinal que na porta e seus contornos

Um dia amanheceram, bem contados,

Três bacias de trampa e doze cornos.

Ofendi-vos, Meu Deus, bem é verdade (Anadiplose)



Ofendi-vos, Meu Deus, bem é verdade,

É verdade, meu Deus, que hei delinqüido,

Delinqüido vos tenho, e ofendido,

Ofendido vos tem minha maldade.



Maldade, que encaminha à vaidade,

Vaidade, que todo me há vencido;

Vencido quero ver-me, e arrependido,

Arrependido a tanta enormidade.



Arrependido estou de coração,

De coração vos busco, dai-me os braços,

Abraços, que me rendem vossa luz.



Luz, que claro me mostra a salvação,

A salvação pretendo em tais abraços,

Misericórdia, Amor, Jesus, Jesus.



Buscando a Cristo



A vós correndo vou, braços sagrados,

Nessa cruz sacrossanta descobertos

Que, para receber-me, estais abertos,

E, por não castigar-me, estais cravados.



A vós, divinos olhos, eclipsados

De tanto sangue e lágrimas abertos,

Pois, para perdoar-me, estais despertos,

E, por não condenar-me, estais fechados.



A vós, pregados pés, por não deixar-me,

A vós, sangue vertido, para ungir-me,

A vós, cabeça baixa, p'ra chamar-me



A vós, lado patente, quero unir-me,

A vós, cravos preciosos, quero atar-me,

Para ficar unido, atado e firme.





Epigrama

I

Juízo anatômico dos achaques que padecia o corpo da República em todos os membros, e inteira definição do que em todos os tempos é a Bahia.

Que falta nesta cidade?... Verdade.

Que mais por sua desonra?... Honra.

Falta mais que se lhe ponha?... Vergonha.



O demo a viver se exponha,

Por mais que a fama a exalta,

Numa cidade onde falta

Verdade, honra, vergonha. (Epílogo)



Quem a pôs neste rocrócio?... Negócio.

Quem causa tal perdição?... Ambição.

E no meio desta loucura?... Usura.



Notável desventura

De um povo néscio e sandeu,

Que não sabe o que o perdeu

Negócio, ambição, usura.



Quais são seus doces objetos?... Pretos.

Tem outros bens mais maciços?... Mestiços.

Quais destes lhe são mais gratos?... Mulatos.



Dou ao Demo os insensatos,

Dou ao Demo o povo asnal,

Que estima por cabedal,

Pretos, mestiços, mulatos.



Quem faz os círios mesquinhos?... Meirinhos.

Quem faz as farinhas tardas?... Guardas.

Quem as tem nos aposentos?... Sargentos.



Os círios lá vem aos centos,

E a terra fica esfaimando,

Porque os vão atravessando

Meirinhos, guardas, sargentos.



E que justiça a resguarda?... Bastarda.

É grátis distribuída?... Vendida.

Que tem, que a todos assusta?... Injusta.



Valha-nos Deus, o que custa

O que El-Rei nos dá de graça.

Que anda a Justiça na praça

Bastarda, vendida, injusta.



Que vai pela clerezia?... Simonia.

E pelos membros da Igreja?... Inveja.

Cuidei que mais se lhe punha?... Unha



Sazonada caramunha,

Enfim, que na Santa Sé

O que mais se pratica é

Simonia, inveja e unha.



E nos frades há manqueiras?... Freiras.

Em que ocupam os serões?... Sermões.

Não se ocupam em disputas?... Putas.



Com palavras dissolutas

Me concluo na verdade,

Que as lidas todas de um frade

São freiras, sermões e putas.



O açúcar já acabou?... Baixou.

E o dinheiro se extinguiu?... Subiu.

Logo já convalesceu?... Morreu.



À Bahia aconteceu

O que a um doente acontece:

Cai na cama, e o mal cresce,

Baixou, subiu, morreu.



A Câmara não acode?... Não pode.

Pois não tem todo o poder?... Não quer.

É que o Governo a convence?... Não vence.



Quem haverá que tal pense,

Que uma câmara tão nobre,

Por ver-se mísera e pobre,

Não pode, não quer, não vence.



Descreve o que era naquele tempo a cidade da Bahia



A cada canto um grande conselheiro,

Que nos quer governar cabana e vinha;

Não sabem governar sua cozinha,

E podem governar o mundo inteiro.



Em cada porta um bem frequente olheiro,

Que a vida do vizinho e da vizinha

Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha,

Para o levar à praça e ao terreiro.



Muitos mulatos desavergonhados,

Trazidos sob os pés os homens nobres,

Posta nas palmas toda a picardia,



Estupendas usuras nos mercados,

Todos os que não furtam, muito pobres,

E eis aqui a cidade da Bahia

Se Pica-Flor me chamais (Décima)

Se Pica-Flor me chamais,

Pica-Flor aceito ser,

Mas resta agora saber,

Se no nome que me dais,

Meteis a flor que guardais

No passarinho melhor!

Se me dais este favor,

Sendo só de mim o Pica,

E o mais vosso, claro fica,

Que fico então Pica-Flor.

É a vaidade, Fábio, nesta vida





É a vaidade, Fábio, nesta vida,

Rosa, que da manhã lisonjeada,

Púrpuras mil, com ambição dourada,

Airosa rompe, arrasta presumida.



É planta, que de abril favorecida,

Por mares de soberba desatada,

Florida, galeota, empavesada,

Sulca ufana, navega destemida.



É nau enfim, que em breve ligeireza

Com presunção de Fênix generosa,

Galhardias apresta, alentos preza:



Mas ser planta, ser rosa, nau vistosa

De que importa, se aguarda sem defesa

Penha a nau, ferro a planta, tarde a rosa?



Um comentário:

Ricardo Santana disse...

Parabéns pelo blog, gostei muito desse lugar, muito rico e esclarecedor!

http://terramundomeu.blogspot.com/

QUIZ: POR QUE OU POR QUÊ?

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