MODELO ESTILO ENEM:
PATRIMÔNIO IMATERIAL
Sobre antropofagia, identidade
e cultura
Índios kamayurás celebram seus
antepassados no ritual do Kuarup; gaúchos, a amizade, na roda de chimarrão;
baianas, sua devoção, ao lavarem a escadaria da Igreja do Bonfim: eis somente
alguns entre incontáveis patrimônios culturais de nosso país.
Indiscutivelmente, cada um deles contribui para a construção de nossa identidade
coletiva como brasileiros, ao mesmo tempo que dependem da subjetividade e
idiossincrasia daqueles que objetivamente mantêm essas manifestações vivas.
Entretanto, alguns desses bens imateriais de inestimável valor podem tornar-se
fadados à extinção, o que, infelizmente, não seria uma novidade no Brasil.
Entender como isso ocorre
consiste em um importante ponto de partida para definirmos ações voltadas à
preservação de patrimônios imateriais. A História, nesse sentido, fornece-nos
certamente ótimos exemplos desse processo. A colonização e a escravidão
exterminaram não somente etnias inteiras, como também submeteram inúmeros povos
por meio de dominação linguística e cultural, desvirtuando-lhes a identidade e
empobrecendo-lhes os referenciais de tradição e conhecimento. Tupinambás,
tupiniquins e xavantes, por exemplo, foram reduzidos ao termo generalizante de
“índios”, enquanto nagôs, malês e bantus viraram simplesmente “negros”.
Contudo, se hoje o Brasil está
longe de passar por um processo de dominação tão violento, por outro lado,
desde a metade do século passado tem experimentado as influências acachapantes
do chamado Imperialismo Cultural norte-americano. Este, através de sua
conhecida Indústria Cultural, bem como com a força de um capitalismo predatório,
tem ao longo de décadas afetado gerações de brasileiros. Isso tem ocorrido
sobretudo com os jovens, cujos valores, costumes e referenciais modificam-se
paulatinamente, a ponto de conduzi-los a uma espécie de xenofilia
estadunidense, em detrimento de tudo que seja nacional.
Por esse motivo, é imprescindível
que fiquemos atentos ao imenso arcabouço de patrimônios imateriais brasileiros,
a fim de garantir a coexistência de diferentes manifestações culturais no país.
Um meio já conhecido para isso é, inicialmente, o da oficialização desses bens
com vistas à elaboração de políticas públicas voltadas a fomentar a criação de
centros de tradição e cultura, museus, programas televisivos temáticos e
documentários que cheguem à população e, principalmente, às escolas. Nesse
contexto, é oportuno lembrarmo-nos das simbólicas palavras do poeta modernista
Oswald de Andrade: “Somente a antropofagia nos une”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário