MODELO ESTILO ENEM - TEMA: RACISMO
Senzala simbólica
O
canto da senzala ecoa forte no Brasil. Nos terreiros louvam-se os orixás e
cultuam-se as forças da natureza. Nas rodas de capoeira e maculelê, vibra a
energia de vários povos africanos trazidos ao país sob o jugo severo de
correntes de senhores cristãos de outrora. A língua portuguesa incorpora
palavras de idiomas como iorubá e bantu, enquanto a figura da mulata ajuda a
vender internacionalmente o carnaval. Porém, nossa “pátria amada”, a “mãe
gentil”, ainda custa reconhecer como iguais todos os seus filhos.
Essa
injustiça, que encontra suas raízes na história, ainda está longe de ser
superada. Mostras claras nos foram dadas recentemente em jogos de futebol. Para
ilustrar a proporção da gravidade do problema, alguns ainda têm a coragem de
argumentar que ofensas como jogar bananas e xingar de macaco são peculiaridades
que fazem parte da “festa” do esporte. Porém, o pior é que, se nossa cultura
procura mascarar o racismo até quando ele é explícito; fora das luzes do
estádio, ele ainda está lá, possivelmente mais cruel, embora mais oculto.
A
ausência de referenciais positivos para o negro também contribui para isso.
Enquanto sobram referências no esporte e na música – áreas em que o talento e
predisposição inata são relevantíssimos -, nas áreas científicas, jurídicas e
na política – em que o grau de instrução é o grande diferencial -, são escassos
os exemplos de negros bem sucedidos. Obviamente esse é o resultado de um fator
cultural e inegavelmente social. Não bastasse isso, a diversidade da riquíssima
cultura africana, infelizmente, é preterida nas escolas e tratada geralmente
como tabu, por meio de uma pretensa superioridade cultural de origem europeia e
judaico-cristã.
O
racismo, portanto, deve ser enfrentado abertamente. A identidade racial deve
ser discutida com sinceridade nas escolas, no conteúdo programático curricular.
Tanto a cultura africana quanto a cultura afro-brasileira, em suas mais
variadas expressões, deve ser estudada, conhecida e debatida. A mídia também
pode contribuir ao abrir espaço para que porta-vozes do Movimento Negro, tão
ativo no país, tornem-se pauta na imprensa. Precisamos ter em mente que,
enquanto os referenciais que reforçam a imagem do negro como doméstica,
segurança, porteiro ou bandido forem os mais fortes, o negro viverá ainda
indiscutivelmente sob os grilhões de seu passado.
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