MODELO ESTILO ENEM – TEMA:
FOME E DESENVOLVIMENTO
Sobre princípios, meios e
fins
“Quem tem fome tem pressa”.
Essa frase do sociólogo Herbert de Sousa, o Betinho, tornou-se célebre por
ilustrar a gravidade da questão da fome no Brasil. Acima das convicções
ideológicas, o fundador da Ação da Cidadania Contra a Fome destacava a
importância da ação pragmática no combate a esse mal que vitima milhões de
pessoas em todo o mundo. A exemplo de Mandela, Betinho percebia a questão da
miséria mais da perspectiva da desigualdade social do que propriamente da
distribuição de alimentos.
Infelizmente, à mesma época em que surgiam debates sérios
sobre o tema, um discurso pseudo-humanitário relativo ao cultivo de
transgênicos popularizou-se no Brasil. A fim de legitimar a venda de produtos
alterados geneticamente, a chamada agricultura capitalizada explorou as
conhecidas imagens de milhares de crianças e mulheres africanas subnutridas e
condenadas à morte por inanição. O que não se comentava era o fato de que tal
flagelo devia-se mais a guerras civis e genocídio do que exatamente à
incapacidade agrícola de produzir alimentos para nutrir a população mundial.
Por outro lado, aqueles com um olhar mais atento ao problema,
como a pediatra e sanitarista Zilda Arns, percebiam nitidamente a relação
sistêmica entre fome, subnutrição infantil e subdesenvolvimento. Para ela,
embora o Estado não pudesse se tornar completamente assistencialista, inicialmente
precisava se valer de ações objetivas de transmissão direta de renda e
alimentos, a fim de suprir os mais necessitados. Desse modo, o país poderia se
desenvolver ao superar a miséria, inserindo-os na cadeia produtiva e
economicamente ativa da sociedade.
Nesse sentido, chega-se à equação de países que superaram o
subdesenvolvimento: assistencialismo para questões extremas, somado a políticas
públicas de desenvolvimento. Assim, programas já conhecidos como o Bolsa
Família, no caso brasileiro, precisam ser condicionados a interesses como Saúde
Pública e Educação, ou seja, os beneficiados recebem o auxílio assistencial,
mas devem, em contrapartida, conforme cada caso, participar de programas de
prevenção de doenças, ter os filhos matriculados em escolas e, conforme a
idade, participar de programas de formação e capacitação. Somente dessa forma o
assistencialismo será considerado um processo, não um fim.
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