Estudo da técnica: Desenvolvimento / Argumentação e
Persuasão
REFLETINDO
O que valida uma forma de argumentar
ou persuadir é, na grande maioria das vezes, o contexto no qual são propostos
os argumentos. A conversa informal, por exemplo, exige uma linguagem
completamente diferente daquela utilizada em um tribunal. O cético argumenta
diferente do crédulo; o douto, diferente do leigo...
Adiante, estudaremos exemplos de
formas de argumentar e os casos em que elas podem ser empregadas.
ALGUNS TIPOS DE PROPOSIÇÕES UTILIZADAS COMO ARGUMENTAÇÃO E
ELEMENTO PERSUASIVO
Proposição por Generalização
Generalizar é sempre uma tentação na
construção de argumentos. Seu principal aspecto talvez seja o poder de ênfase
criado por enunciados curtos e contundentes. “Todo político é corrupto”; “Todos
os pais querem o bem de seus filhos”; “Os brasileiros só querem saber de
carnaval e futebol” – são exemplos de generalizações que nascem no chamado
senso comum.
O senso comum é o sentimento que
prevalece na sociedade de que determinado conceito é real, verdadeiro, e, por
esse motivo, até certo ponto, inquestionável. Seu uso no discurso pode ser um
bom recurso de retórica, entretanto, em um texto dissertativo escrito para um
vestibular, o uso do senso comum pode, em vez de colaborar com a argumentação,
comprometer o encadeamento argumentativo e, portanto, a conclusão de seu texto.
O problema da generalização reside
no fato de que qualquer exceção contribui para anular ou enfraquecer o
argumento proposto.
Existem, porém, proposições que
podem ser feitas com base no senso comum.
Analise as proposições abaixo:
Toda
mulher deseja, por natureza, ser mãe.
Todos os
seres humanos, por natureza, têm o desejo de gozar de bem-estar material,
físico e psicológico.
Toda criança deve ter o direito a um lar, ao ensino e ao lazer.
Todos os jovens são rebeldes e
tendem a questionar os pais.
Variações:
Não há mulher que não deseje, por natureza, ser mãe.
Não há pessoa que não deseje, por natureza, gozar de
bem-estar material, físico e psicológico.
Nenhuma...; Ninguém...
Proposição Retórica
As perguntas retóricas são um bom
recurso de persuasão por sugerirem implicitamente uma resposta que vá ao
encontro do que deseja seu enunciador. Apesar disso, é necessário cuidado ao
usá-las, pois, se muito utilizadas, podem transmitir a impressão de que faltam
bons argumentos ou que o vestibulando tem dificuldade em desenvolver
adequadamente o tema. Devem ser evitadas no título e na conclusão de
dissertações, embora sejam um bom recurso em textos provocativos como Artigos
de Opinião.
Analise as perguntas abaixo:
Que mulher, por natureza, não deseja ser mãe?
Quem, por natureza, não deseja gozar de bem-estar material,
físico e psicológico?
Proposição por Parcialidade
A proposição por parcialidade é um
ótimo recurso para se escapar à generalização, mas, se mal utilizada, pode
também criar falhas na argumentação.
Analise os exemplos:
Grande parte dos filhos é ingrata (são ingratos). Oitenta
por cento dos filhos são ingratos.
Muitos filhos são ingratos.
Alguns; Algumas; Uma parte;
Há pessoas / casos .
Obs.: Não usar porcentagem, a menos que haja referência
estatística comprovada, sendo mencionada a fonte.
Proposição por Autoridade (credibilidade)
A proposição por autoridade, se bem
utilizada, revela um bom repertório do vestibulando e sua capacidade de fazer
relações entre o tema e informações extrínsecas aos possíveis textos de apoio
apresentados para o desenvolvimento do tema proposto. Além desse aspecto, podem
ajudar na confecção de dissertações ou respostas discursivas que tenham como
prerrogativa o “diálogo” com textos e gráficos da proposta de redação ou da
questão dissertativa.
Observe os exemplos abaixo:
Segundo pesquisas do IBGE, 60% dos brasileiros...
Conforme entrevista dada por cardiologistas, são
considerados danosos à saúde hábitos como...
De acordo com; A partir de; Considerando .
Proposição por Exemplos Concretos
Exemplos concretos são sempre ótimos
recursos para construção e desconstrução de argumentos e, portanto, devem ser
utilizados sempre que possível. Além disso, também demonstram o repertório do
vestibulando.
Observe os exemplos:
Os casos noticiados a respeito dos conflitos em Gaza são
provas de que a paz está longe de vigorar entre israelenses e palestinos.
A recém-aprovada lei Maria da Penha demonstra que a
necessidade de se proteger mulheres contra a agressão de parentes em casa,
sobretudo contra os próprios companheiros, é uma infeliz realidade no Brasil.
Proposição por Raciocínio Lógico
A proposição desenvolvida a partir
do raciocínio lógico é a essência de toda dissertação e, principalmente, dos
parágrafos conclusivos. Dominar a forma de construir tal tipo de proposição,
com o auxílio de conjunções e expressões de inferência, é imprescindível a uma
boa dissertação.
Observe:
Sendo que a legislação brasileira garante os direitos
individuais de cada cidadão, e há casos relatados de mão de obra escrava em
território nacional, conclui-se que a lei não vem sendo totalmente cumprida.
Grande parte das emissoras de TV visam ao lucro, reflexo
direto da audiência que conquistam com sua programação. Não raramente se veem
programas que exploram a sensualidade e erotização, principalmente, da mulher.
Portanto, certamente, programas com esse conteúdo dão audiência significativa
às emissoras e, consequentemente, são
lucrativos.
Introdução: Uma vez que; Já que; Se for considerado (a)...
Conclusão: Logo; Portanto; Consequentemente; Por esse
motivo; Então;
Proposição por Competência Linguística
O modo de se expressar também
contribui para persuadir, contudo, se utilizado em desacordo com o contexto,
pode ter efeito contrário.
Analise os exemplos:
A principal causa de lombalgia é uma contratura muscular
localizada, seguida de uma rotação vertebral. Pode-se tratar a partir do uso de
um relaxante muscular, anti-inflamatório e manobras de manipulação vertebral,
ou seja, é necessária a consulta de um médico e de um fisioterapeuta.
Isso “daí" deve ser uma pinçada do nervo. Esfrega esse
unguentinho (dotorzinho) que é pá-pum.
Obs.: Espera-se de um vestibulando, como competência
linguística, o domínio da norma padrão da língua portuguesa.
Proposição por Função Apelativa
A função apelativa é utilizada em
propagandas, cartas e, às vezes, em artigos de opinião e textos literários como
contos e romances, porém deve ser evitada em respostas discursivas e
dissertações. Dependendo de como for utilizada, pode transmitir a impressão de
que o vestibulando tem dificuldade em se expressar ou o faz com certa
presunção.
Analise os exemplos:
Você deve procurar cuidar de sua saúde, pois assim você pode
se prevenir de doenças.
O Sr. e a Sra. que estão lendo esta frase devem ter notado
que...
Ao observarmos as atitudes daqueles próximos a nós,
entendemos... (1ª pessoa do plural)
Proposição por Comparação ou Metáfora
A comparação ou metáfora, assim como
outros recursos próprios à função poética da linguagem, podem ajudar a abordar
um tema de maneira inusitada e original. No entanto, requerem certos cuidados.
Analise os exemplos:
Aparelhos de alta tecnologia sem usuários qualificados são
como tesouros em uma ilha deserta, não se pode usufruir de sua verdadeira
riqueza embora seja possível tocá-los.
A economia sem intervenção estatal que a regule é um carro
em alta velocidade sem freios, nunca se sabe onde nem como vai parar.
Obs.: Há comparações e metáforas já há muito “gastas”,
devendo ser, portanto, evitadas.
O trabalhador de verdade tem de matar um leão por dia.
Imagens como essas são como um tapa
na cara da sociedade.
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