Carta do Editor ou Carta ao Leitor – Editorial
Todo jornal ou revista é formado por um conjunto de textos de diferentes características e variadas funções, os quais, em sua maioria, são organizados em torno de notícias e temas cotidianos recentes. Os critérios para essa organização, para a seleção dos temas e notícias que figurarão em uma edição, para a disponibilização do espaço destinado a cada matéria e ilustração é previamente planejado por um grupo que cuida da edição do periódico, liderado geralmente por um jornalista experiente que, no desempenho dessa função, recebe o nome de editor.
Esse profissional, ao escolher as notícias e matérias que terão maior destaque, assim como ao determinar quais os tipos de linguagem e abordagem serão utilizados, age não somente motivado por sua própria opinião, mas, acima de tudo, orientado por uma linha ideológica do jornal ou revista, os quais têm por objetivo dirigir-se a determinado segmento da sociedade, atendendo e reafirmando, até certo ponto, as expectativas, os gostos e os valores de seus leitores.
Em cada edição do periódico há um texto do editor no qual é apresentado “seu” posicionamento ao organizar aquela publicação em questão. Nele, tecem-se comentários, sobretudo acerca de um assunto cuja repercussão tenha sido mais ostensiva durante o período que antecedeu a edição. A esse texto dá-se o nome de Editorial.
O Editorial, embora não seja propriamente uma carta, pelo menos não no sentido mais comum a que costumamos atribuir este nome, costuma ser o primeiro texto da publicação, apresentado em uma seção denominada Carta ao Leitor, Carta do Editor, Da Redação, Palavras do Editor, Editorial etc.
Inicialmente os editoriais não possuíam título nem eram assinados. Hoje, no entanto, dependendo do periódico, após a identificação da seção, pode haver um título original como também uma assinatura do editor ao final do texto.
Observe esse editorial extraído da revista Veja:
Carta ao Leitor
Os pós que reduzem ao pó
Quem acompanha o noticiário pode ter a impressão de que o universo das drogas se restringe a produtores e traficantes. Nas reportagens, os consumidores, responsáveis por alimentar essa cadeia econômica criminosa, ora inexistem, ora são vistos sob a ótica do politicamente correto, cujas lentes tendem a minimizar o impacto destrutivo das substâncias entorpecentes ou alucinógenas sobre os próprios viciados, suas famílias e a sociedade. No entanto, relegar o fenômeno à fraqueza inerente à condição humana, como se ele não comportasse consequências funestas, é um equívoco. Mais do que nunca, dada a dimensão do problema, é necessário inculcar nos adolescentes que compõem a massa de potenciais usuários e nos indivíduos já viciados a noção de que, ao acender um cigarro de maconha ou cheirar uma carreira de cocaína, eles se tornam cúmplices dos bandidos que aterrorizam desde a Amazônia até as favelas das cidades brasileiras. O filme Tropa de Elite, lançado em 2007, representou um passo nesse sentido. Em que pesem sua truculência e desvios de conduta, o personagem capitão Nascimento desnudou a hipocrisia do politicamente correto, que absolve o consumidor, livrando-o de sua responsabilidade social.
Se não é possível – nem desejável – realizar vários Tropas de Elite por ano, é factível produzir programas televisivos que abordem a questão das drogas de maneira didática e abrangente. Recentemente, foi exibido na TV brasileira um documentário exemplar, protagonizado por um roqueiro inglês, ex-cocainômano. Ele veio à América do Sul para mostrar aos cidadãos de seu país como as baladas movidas a pó fortaleciam a narcoguerrilha colombiana.
Ao tratar dos dramas individuais causados pelas drogas, VEJA sempre procurou mostrar sua conexão com a tragédia maior engendrada pelo comércio de entorpecentes. Nesta edição, a revista volta ao tema em duas reportagens. A primeira revela a luta de Fábio Assunção, um dos mais queridos atores brasileiros, para livrar-se do vício em cocaína. A outra faz uma constatação apavorante: o crack, a mais perigosa das drogas, de uso antes restrito a miseráveis dos grandes centros, chegou à classe média e agora responde pela maioria das internações nas mais caras clínicas de reabilitação de viciados. VEJA continua, assim, a cumprir seu papel de conscientizar os leitores do poder maligno dessas substâncias ilícitas que cancelam existências, arranham biografias, degradam as cidades e comprometem o futuro de países inteiros. Essa é a verdadeira visão politicamente correta.
(19 de novembro de 2008. http://veja.abril.com.br/191108/cartaleitor.shtml)
O texto é composto de:
- Nome da seção: Carta ao Leitor.
- Título original: Os pós que reduzem ao pó.
- Recorte e atualidade do tema: Quem acompanha os noticiários (...) universo das drogas.
- Posicionamento ideológico em relação ao tema:
“Nas reportagens, os consumidores, responsáveis por alimentar essa cadeia econômica criminosa, ora inexistem, ora são vistos sob a ótica do politicamente correto, cujas lentes tendem a minimizar o impacto destrutivo das substâncias entorpecentes ou alucinógenas sobre os próprios viciados, suas famílias e a sociedade. No entanto, relegar o fenômeno à fraqueza inerente à condição humana, como se ele não comportasse consequências funestas, é um equívoco. Mais do que nunca, dada a dimensão do problema, é necessário inculcar nos adolescentes que compõem a massa de potenciais usuários e nos indivíduos já viciados a noção de que, ao acender um cigarro de maconha ou cheirar uma carreira de cocaína, eles se tornam cúmplices dos bandidos que aterrorizam desde a Amazônia até as favelas das cidades brasileiras.”
- Menção ao fato que suscitou o tema: Lançamento do filme “Tropa de Elite”, em 2007.
- Proposta motivada pelo problema abordado:
“Se não é possível – nem desejável – realizar vários Tropas de Elite por ano, é factível produzir programas televisivos que abordem a questão das drogas de maneira didática e abrangente.”
- Posicionamento ideológico (explícito):
“Ao tratar dos dramas individuais causados pelas drogas, VEJA sempre procurou mostrar sua conexão com a tragédia maior engendrada pelo comércio de entorpecentes. Nesta edição, a revista volta ao tema em duas reportagens.”
“VEJA continua, assim, a cumprir seu papel de conscientizar os leitores do poder maligno dessas substâncias ilícitas que cancelam existências, arranham biografias, degradam as cidades e comprometem o futuro de países inteiros. Essa é a verdadeira visão politicamente correta.”
- Referência às matérias relacionadas ao tema em destaque:
“Nesta edição, a revista volta ao tema em duas reportagens. A primeira revela a luta de Fábio Assunção, um dos mais queridos atores brasileiros, para livrar-se do vício em cocaína. A outra faz uma constatação apavorante: o crack, a mais perigosa das drogas, de uso antes restrito a miseráveis dos grandes centros, chegou à classe média e agora responde pela maioria das internações nas mais caras clínicas de reabilitação de viciados.”
- Não houve identificação do editor.
CONCEITUANDO
O Editorial, portanto, é um texto jornalístico voltado ao leitor, às vezes quase em um tom de conversa. Seu principal objetivo é apresentar o posicionamento ideológico de determinado periódico, fazendo referência acerca das matérias que receberam destaque na edição em questão.
Quanto à sua estrutura, é um texto dissertativo (expositivo ou argumentativo), identificado como Editorial, Carta ao Leitor etc., no qual tanto o título quanto a assinatura são facultativos; há propostas de redação que, no entanto, exigem título.
Recomenda-se que, caso o candidato ou vestibulando queira assinar o Editorial, em vez de colocar um nome, encerre seu texto assinando: O Editor.
Na Carta ao Leitor não se escreve uma despedida cortês como nas demais cartas, no entanto é possível, antes da assinatura, escrever algo como: Boa leitura!
O foco narrativo costuma variar entre 3a pessoa (indicando impessoalidade / formalidade), como no exemplo lido, e 1a pessoa do plural (indicando certa informalidade), como, por exemplo: “Nós da redação resolvemos investigar a fundo o tema vegetarianismo para informar melhor o leitor a respeito dos cuidados necessários ao se adotar esse tipo de alimentação...”
Cabe destacar que a linguagem adotada no exame vestibular dependerá da orientação dada pela questão; não havendo orientação quanto a isso, recomenda-se o uso da 3a pessoa, bem como o emprego da norma culta.
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