Fábula, Parábola e Apólogo
Como foi visto nas unidades anteriores, os textos, em sua
grande maioria, surgem na oralidade, pois a fala é anterior à escrita, e esta é
essencialmente a materialização daquela, sendo ambas expressões do pensamento.
Entre os povos que não se utilizam da escrita, a figura do
mais velho como portador de sabedoria é bastante comum e, curiosamente, este
sábio não costuma discorrer sobre assuntos filosóficos ao ser consultado, pelo
contrário, o respeito que adquire entre os seus reside justamente no fato de ser
capaz de transmitir um ensinamento profundo por meio de histórias simples,
fáceis de memorizar e de serem compreendidas. É por esse motivo que muitas
delas servem para educar crianças nas mais diferentes culturas, transmitindo os
valores de cada sociedade e apresentando maneiras de se comportar e de entender
a vida nas mais diversas situações e adversidades próprias à existência humana.
Personalidades como o grego Esopo (VI a.C.) e o francês La
Fontaine (XVII d.C.) destacaram-se por suas fábulas e apólogos, utilizados,
inclusive, para educar futuros reis. No universo das religiões, destaca-se
outro tipo de história, simples no que concerne às personagens e enredo, porém
algumas vezes complexas quanto ao entendimento, demandando reflexão ou
explicação: trata-se das parábolas. Há famosas parábolas cristãs, muçulmanas,
hinduístas, budistas e taoístas.
Quando textos como esses são propostos em vestibulares,
prioriza-se a capacidade do canditato de expressar-se por escrito de modo a
demonstrar que é capaz de interpretar o conteúdo de uma fábula, apólogo ou
parábola, ou produzir uma fábula, por exemplo, evidenciando sua compreensão não
somente acerca da função desse tipo de texto, bem como de sua estrutura.
Tanto na fábula e no apólogo como na parábola, utiliza-se o
recurso da alegoria, palavra de étimo grego que poderia ser traduzida como
“dizer de outra forma”; ou seja, as personagens, situações e objetos, nessas
histórias, representam tipos de personalidade, sentimentos e ideias. Por meio
delas, pode-se afirmar que as abstrações do pensamento ganham cor e forma.
Para entendê-las melhor, deve-se atentar às características
que as individualizam.
FÁBULA
Na fábula expressa-se uma lição moral. Nela geralmente não
estão presentes mais de duas ou três personagens, principalmente animais
personificados, cujas características associam-se a tipos de personalidade. O
enredo é bastante curto e desenvolve-se em torno de um conflito. Não costuma
haver descrições além do essencial para contextualizar o leitor, tampouco preocupação
em se precisar tempo e espaço. O principal conteúdo costuma ser expresso nas
falas das personagens, escritas geralmente por meio de discurso direto (ver
unidade XXIV). Há, no entanto, fábulas em que não são apresentadas falas,
concentrando-se o conteúdo no mero comportamento das personagens diante da
situação de conflito. É comum, porém não obrigatório, destacar-se uma “moral”
após o desfecho. Em fábulas modernas, escritas em prosa (em parágrafos), existe
uma certa tendência à exploração do humor. Antigamente as fábulas eram escritas
em versos.
Leia os exemplos a seguir.
O ASNO E O CAVALO
Um asno dizia a um cavalo:
- Tu que és feliz! Cuidam de ti direitinho, te dão alimento
em abundância. Quanto a mim, nem mesmo capim eu tenho e inúmeros são meus
sofrimentos.
No entanto, quando veio a guerra, um cavaleiro pegou o
cavalo, montou e partiu. Corria de um lado para outro, lançava-se nos combates
mais encarniçados. O cavalo, exausto, terminou morrendo. Incontinenti, o asno
mudou de opinião, lamentando o destino do cavalo.
MORAL: não invejes nem os ricos nem os poderosos. Pensa nos
invejosos que os ameaçam e aprende a gostar de tua modesta fortuna.
- Esopo
http://www.fabulas2000.kit.net/pesquisa/pag_1073161_013.html
A VIÚVA
Quando a amiga lhe apresentou o garotinho lindo dizendo que
era seu filho mais novo, ela não pôde resistir e exclamou: " Mas como, seu
marido não morreu há cinco anos?" "Sim, é verdade" — respondeu
então a outra, cheia daquela compreensão, sabedoria e calor que fazem os seres
humanos — "mas eu não".
MORAL: Não morre a passarada quando morre um pássaro.
A seguir propõem-se alguns ensinamentos morais ilustrados
por fábulas de Esopo e Millôr Fernandes. Sugere-se que, para praticar,
procure-se criar uma nova fábula para exemplificar essas afirmações.
"Nenhum gesto de amizade, por muito insignificante que
seja, é desperdiçado."
"Os hábeis oradores, com astúcia e prudência, sabem
converter em elogios os insultos recebidos dos amigos."
“Viver é desenhar sem borracha”
“Como são admiráveis as pessoas que nós não conhecemos bem”
APÓLOGO
Apólogo, via de regra, consiste em uma fábula em que as
personagens são seres inanimados, objetos ou até partes do corpo humano. Do
apólogo também depreende-se uma moral.
O PREGO E O MARTELO
Um prego e um martelo jaziam lado a lado, acerca de uns cem
metros de uma hidrelétrica em construção.
Quase ao mesmo tempo, perceberam uma inscrição nítida e
tosca numa parede, que dizia: “Quando Você for martelo, não se esqueça de que
já foi prego!...”
O Martelo leu, não disse nada e continuou em sua inércia. O
prego, no entanto, deu a maior importância à mensagem e principiou a refletir
na dura missão dele, prego, que implantado a duras marteladas bem aplicadas em
sua cabeça, penetraria lenta e sofridamente no madeiramento até desaparecer
quase por completo, quando então ficaria sustentando toda uma armação
pesadíssima de caibros e tábuas, no mais completo anonimato.
E ai dele se apresentasse qualquer folga, por mínima que fosse,
porque prontamente alguém perceberia e novas e contundentes marteladas o
recolocariam no seu humilde e devido lugar.
- Ah! Martelo - disse o Prego, depois de relatar seu
pensamento - não queira nunca ser prego.
O Martelo refletiu por dois segundos e respondeu:
- Meu amigo, não pense que eu já nasci martelo. Não meu
caro, eu já fui minério como você foi, passei por uma fundição, fui um valoroso
prego na construção da usina de Tucuruí, sustentei orgulhosamente as tábuas que
escoraram trechos das barragens de cimento e aço, depois fui rejeito, quase
lixo, fui colhido e levado para Brasília onde fixei tábuas de barracos de úteis
candangos (pregos humanos); tempos depois, virei lixo mesmo e fui catado por
catadores de lixo, selecionado e remetido a uma fundição de reciclagem, quando
então, junto com outros pregos, virei uma massa amorfa e posteriormente tomei a
forma atual de martelo.
Sou martelo, mas sei que formamos um par na lida; par
sumamente importante e indissolúvel, pois todo trabalho é digno, toda função é
importante, ninguém entre nós atua ou é útil sem o outro.
De que vale o prego sem o martelo? Qual é a utilidade do
martelo sem o prego?
Assim também, nós, seres humanos, deveríamos sempre refletir
na interdependência que existe entre nós e no quão importante é que saibamos
ver a importância de nosso próximo e a nossa própria, sem a exagerarmos ou
desmerecermos uma ou outra sem razão.
A escada por onde se sobe é a mesma por onde se desce.
Read more: Diálogos Possíveis: o Prego e o Martelo | Blog
Brasil Acadêmico http://blog.brasilacademico.com/2009/06/dialogos-possiveis-o-prego-e-o-martelo.html#ixzz1S5m5LrYl
PARÁBOLA
Na parábola, as personagens são seres humanos ou ideias
apresentadas como pessoas. É uma alegoria escrita em forma de narração. Sua
finalidade seria a de ilustrar verdades e sintetizar ensinamentos. Não
raramente, além das personagens, alguns objetos e mesmo elementos da paisagem
representam outras ideias e seres. As parábolas costumam ser mais elaboradas do
que as fábulas e apólogos, uma vez que sua alegoria é mais ricamente
trabalhada. As parábolas bíblicas, como a mostrada a seguir, estão escritas
originalmente em versos (versículos) e são sucintas, entretanto nada impede que
haja parábolas escritas em prosa, muito mais extensas e enriquecidas com
detalhes e descrições.
A Parábola do Semeador
Eis que o semeador saiu a semear.
E quando semeava, uma parte da semente caiu ao pé do
caminho, e vieram as aves, e comeram-na;
E outra parte caiu em pedregais, onde não havia terra
bastante, e logo nasceu, porque não tinha terra funda;
Mas vindo o sol, queimou-se, e secou-se, porque não tinha
raiz.
E outra caiu entre espinhos, e os espinhos cresceram, e
sufocaram-na.
E outra caiu em boa terra, e deu fruto: um a cem, outro a
sessenta e outro a trinta.
Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.
(Mateus, XIII, 3 a 9).
Nessa parábola, propõem-se os seguintes significados:
Semente: a palavra de Deus (ensinamentos de Suas leis).
Semeador: aquele que ensina as leis de Deus.
Semear: pregar a palavra de Deus.
Beira da estrada (pé do caminho): “corações” preocupados com
a saciedade dos instintos e paixões.
Aves: instintos e paixões.
Pedras (pedregais): “corações” endurecidos, impiedosos.
Espinhos: as situações do cotidiano, da rotina, dos afazeres
destinados à manutenção da vida material.
Boa terra: “corações simples” abertos ao entendimento dos
ensinamentos de Deus.
Frutos: obras resultantes das pessoas que entenderam os
ensinamentos e passaram a agir segundo eles.
Cem, sessenta, trinta: alusão ao que cada “convertido”
passou a produzir segundo as próprias possibilidades.
5 comentários:
Olá, professor
Eu gostaria de perguntar se o senhor já falou sobre ensaio, porque eu procurei aqui no blog e não achei...
Obrigada.
Bom dia, Stéfani,
Não abordei ensaio nas aulas. Mas explicá-lo é bem simples.
Ensaio é um texto dissertativo-argumentativo, com linguagem formal e título. Se possível, o ideal é desenvolver o texto e defender a tese a partir de uma abordagem mais filosófica e literária do tema.
Tradicionalmente, os ensaios recebem títulos como:
Sobre a tristeza e suas vítimas /
Da felicidade e outros sentimentos /
Da luta de classes e suas consequências /
Sobre moinhos e revoluções
Vou ver se encontro algum exemplo e posto aqui...
Abs!!
Ah, sim! Muito obrigada, Leo. Eu tenho procurado exemplos, mas achei basicamente ensaios de nível superior, enormes, e com títulos extensos igualmente; a exemplo de vestibular não encontrei nada ainda. Então, se achar algum me manda sim, por favor.
Obrigada denovo, prof
Abraço
Infelizmente eu também não encontrei nada satisfatório.
Talvez eu escreva um modelo.
Abs!
Eu gostaria de ler um conteúdo sobre um género textual parabola ,definição ,exemplo.
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