Gênero textual: Resenha
O texto a seguir pertence ao gênero
resenha. Como tal, possui função específica que determinará seu conteúdo, a
forma de exposição de ideias, linguagem e abordagem do tema. Leia-o e procure
identificar essas características.
Um gramático contra a gramática
Gilberto Scarton
“Língua
e Liberdade: por uma nova concepção da língua materna e seu ensino” (L&PM, 1995, 112 páginas) do gramático
Celso Pedro Luft traz um conjunto de
ideias que subverte a ordem estabelecida no ensino da língua materna, por combater,
veemente, o ensino da gramática em sala de aula.
Nos 6 pequenos capítulos que integram a obra, o gramático
aborda, intencionalmente, de maneira enfática4 o mesmo tema: a maneira
tradicional e errada de ensinar a língua materna, as noções falsas de língua e
gramática, a obsessão gramaticalista, inutilidade do ensino da teoria
gramatical, a visão distorcida de que se ensinar a língua é se ensinar a
escrever certo, o esquecimento a que se relega a prática linguística, a postura
prescritiva, purista e alienada - tão comum às "aulas de português" .
O velho pesquisador apaixonado pelos problemas da língua,
teórico de espírito lúcido e de larga formação linguística e professor de longa
experiência leva o leitor a discernir com rigor gramática e comunicação:
gramática natural e gramática artificial; gramática tradicional e linguística;
o relativismo e o absolutismo gramatical; o saber dos falantes e o saber dos
gramáticos, dos linguistas, dos professores; o ensino útil, do ensino inútil; o
essencial, do irrelevante.
Essa fundamentação linguística de que lança mão - traduzida
de forma simples com fim de difundir assunto tão especializado para o público
em geral - sustenta a tese do Mestre, e o leitor facilmente se convence de que
aprender uma língua não é tão complicado como faz ver o ensino gramaticalista
tradicional . É, antes de tudo, um fato natural, imanente ao ser humano; um
processo espontâneo, automático, natural, inevitável, como crescer. Consciente
desse poder intrínseco, dessa propensão inata pela linguagem, liberto de
preconceitos e do artificialismo do ensino definitório, nomenclaturista e
alienante, o aluno poderá ter a palavra, para desenvolver seu espírito crítico
e para falar por si.
Embora Língua e Liberdade do professor Celso Pedro Luft não
seja tão original quanto pareça ser para o grande público (pois as mesmas
concepções aparecem em muitos teóricos ao longo da história), tem o mérito de
reunir, numa mesma obra, convincente fundamentação que lhe sustenta a tese e
atenua o choque que os leitores - vítimas do ensino tradicional - e os
professores de português - teóricos, gramatiqueiros, puristas - têm ao se
depararem com uma obra de um autor de gramáticas que escreve contra a gramática
na sala de aula .
(Adaptado
de: http://www.pucrs.br/gpt/resenha.php)
Observe que na resenha encontram-se basicamente 5 itens:
1 Citação
bibliográfica.
2 Citação biográfica do autor (não obrigatório).
3 Apresentação do conteúdo da obra analisada.
4 Emissão de opinião do resenhista – (que pode se utilizar de comparações com outros textos e autores)
5 Opinião conclusiva do autor.
Analisando-se a resenha, portanto, percebe-se que as
diferentes informações quanto ao conteúdo da obra e quanto à avaliação do
resenhista estão unidas de forma coesa, como a formar uma só trama. Não se
encontram parágrafos destinados somente ao conteúdo ou apenas à crítica. Tal unidade é bastante importante em qualquer texto desse tipo.
Leia essa outra resenha e atente para a linguagem empregada:
DVD
UMA VERDADE INCONVENIENTE (An Inconvenient Truth, Estados
Unidos. 2006. Paramount) - Al Gore passou décadas de sua carreira fazendo papel
de chato ao falar insistentemente sobre um problema que parecia distante, o
aquecimento global. Ficou com fama de bobão e, como se sabe, perdeu a eleição
para George W. Bush de forma nebulosa. Enquanto a popularidade do atual
presidente despenca, entretanto, a dele anda nas alturas - até em Prêmio Nobel
já se fala. Tudo graças a esse bem urdido documentário sobre o tema mais caro
ao ex-presidente vice-presidente-presidente: as mudanças climáticas. Envolvente,
ritmado e didático sem ser condescendente, o filme chega ao DVD com dados
atualizados em relação à versão vista no cinema e é um programa quase que
obrigatório para quem deseja entender por que o clima anda tão louco e o que se
pode fazer, no dia, para não agravar o problema.
(Revista Veja, São Paulo, 07 fev. 2007.)
CONCEITUANDO
A
resenha não se trata de um texto muito longo; dotada de título original, tem
como objetivo chamar a atenção do leitor de modo a apresentar-lhe apreciações
críticas e de conteúdo a respeito de uma obra científica, filosófica ou
literária (resenha crítica), podendo também abarcar coletânea de textos de
variados tipos (resenha temática), analisados como um todo ou individualmente.
Considerando-se o universo da escrita apenas, as resenhas, portanto, são textos
em 3a pessoa que se apoiam em outros textos, assim como os resumos, e que, no
entanto, diferente destes, além de apresentarem de modo sucinto determinado
conteúdo, ocupam-se deste último com uma abordagem na qual a opinião do
resenhista recebe atenção especial. Neste aspecto, aquele que a escreve, além
de apresentar os próprios pontos de vista, é capaz de influenciar a opinião
alheia quanto à determinada obra, filme
etc.
No cotidiano, esse gênero textual
costuma aparecer em jornais, revistas, sites especializados e blogs, podendo
assumir até uma linguagem mais descontraída. No meio acadêmico, no entanto,
privilegia-se a formalidade na abordagem do conteúdo e na construção de
argumentos.
Embora alguns autores nomeiem
algumas categorias de resenhas, em sua essência e estrutura todas apresentam os
mesmos elementos:
- título;
- citação bibliográfica;
- citação do autor (sua biografia -
opcional);
- apresentação sucinta do conteúdo
do objeto tratado;
- análise e crítica do resenhista,
expressando juízo de valor.
É importante observar que a crítica
do resenhista não deve ter por base simplesmente o campo de suas impressões,
pelo contrário, suas opiniões precisam ser sustentadas por argumentos que
persuadam o leitor de que a tese defendida na resenha é digna de crédito, ou
seja, toda resenha possui um caráter dissertativo.
Na crítica, costuma-se expor um
ponto de vista favorável ou desfavorável ao objeto tratado, contudo não se
descarta a possibilidade de relativização entre prós e contras de determinado
texto ou obra.
Sugestão de trechos:
- Com adjetivos valorativos:
a) A obra é –
reveladora; importante; essencial; problemática; polêmica; descompromissada;
recomendável.
b) O autor é –
enfático; modesto; contundente; desafiador; radical.
c) O estilo do
autor é / a abordagem do autor é – discutível; exemplar; confuso(a);
irreverente.
d) O tema é –
relevante; muito atual; pertinente; desconcertante.
- Com advérbios ou locuções adverbiais:
a) O autor escreve - com desenvoltura; ritmadamente;
didaticamente; tediosamente; com originalidade.
b) É necessário ler – atentamente; analiticamente; com
espírito crítico.
c) No texto, aborda-se o assunto – com audácia; com cautela;
com sensibilidade.
d) O tema é tratado – de forma irreverente; de maneira
convencional; de maneira preconceituosa.
Sugestões:
- Antes de produzir uma resenha, procure elencar de forma
objetiva as informações mais relevantes do texto (O quê, Quem, Quando, Como,
Onde e Por quê).
- Procure pensar em elementos do texto como: tema,
intencionalidade, linguagem, aspecto biográfico do autor.
- Para as informações elencadas, procure atribuir valores
positivos ou negativos sobre os quais se possa argumentar de maneira
convincente.
EXERCÍCIOS DE VESTIBULAR
1. (Ufpr - adaptado)
Elabore um resumo ou uma resenha crítica de até 15 linhas do texto a
seguir.
Para que Filosofia?
É uma
pergunta interessante. Não vemos nem ouvimos ninguém perguntar, por exemplo,
para que matemática ou física? Para que geografia ou geologia? Para que
história ou sociologia? Para que biologia ou psicologia? Para que astronomia ou
química? Para que pintura, literatura, música ou dança? Mas todo mundo acha
muito natural perguntar: para que Filosofia?
Em geral,
essa pergunta costuma receber uma resposta irônica, conhecida dos estudantes de
Filosofia: "A Filosofia é uma ciência com a qual e sem a qual o mundo
permanece tal e qual". Ou seja, a Filosofia não serve para nada. Por isso,
se costuma chamar de "filósofo" alguém sempre distraído, com a cabeça
no mundo da lua, pensando e dizendo coisas que ninguém entende e que são
perfeitamente inúteis.
Essa
pergunta, "Para que Filosofia?", tem a sua razão de ser.
Em nossa
cultura e em nossa sociedade, costumamos considerar que alguma coisa só tem o
direito de existir se tiver alguma finalidade prática, muito visível e de
utilidade imediata.
Por isso,
ninguém pergunta para que as ciências, pois todo mundo imagina ver a utilidade
das ciências nos produtos da técnica, isto é, na aplicação científica à
realidade.
Todo mundo
também imagina ver a utilidade das artes, tanto por causa da compra e venda das
obras de arte, quanto porque nossa cultura vê os artistas como gênios que
merecem ser valorizados para o elogio da humanidade. Ninguém, todavia, consegue
ver para que serviria a Filosofia, donde dizer-se: não serve para coisa alguma.
Parece,
porém, que o senso comum não enxerga algo que os cientistas sabem muito bem. As
ciências pretendem ser conhecimentos verdadeiros, obtidos graças a procedimentos
rigorosos de pensamento; pretendem agir sobre a realidade, através de
instrumentos e objetos técnicos; pretendem fazer progressos nos conhecimentos,
corrigindo-os e aumentando-os.
Ora, todas
essas pretensões das ciências pressupõem que elas acreditam na existência da
verdade, de procedimentos corretos para bem usar o pensamento, na tecnologia
como aplicação prática de teorias, na racionalidade dos conhecimentos, porque
podem ser corrigidos e aperfeiçoados.
Verdade,
pensamento, procedimentos especiais para conhecer fatos, relação entre teoria e
prática, correção e acúmulo de saberes: tudo isso não é ciência, são questões
filosóficas. O cientista parte delas como questões já respondidas, mas é a
Filosofia quem as formula e busca respostas para elas.
Assim, o
trabalho das ciências pressupõe, como condição, o trabalho da Filosofia, mesmo
que o cientista não seja filósofo.
(CHAUÍ, M. "Convite à
Filosofia". São Paulo: Ática, 1994. p. 12-13.)
Um comentário:
MUITO BOM,ADOREI A EXPLICAÇÃO OBRIGADA
Postar um comentário