Gênero textual: Carta Argumentativa
Toda carta tem como primeira
finalidade estabelecer uma relação direta com alguém. De acordo com a intenção
do emissor, seu grau de intimidade com o destinatário e o caráter pessoal ou
não da mensagem, dentro de uma estrutura própria de correspondência, a carta
assumirá características específicas, sobretudo no campo da linguagem, na forma
de abordar o tema e no tratamento dispensado ao receptor. No gênero epístola,
portanto, é possível encontrar peculiaridades que resultarão na adjetivação dos
diferentes tipos de carta.
A confecção de uma carta pode ser
motivada pela ideia de solicitar, reclamar, contestar, manifestar apreço ou
descontentamento, reforçar vínculos afetivos ou comerciais, informar e até como
pretexto para dissertar sobre arte, poesia, filosofia ou ciência, além de
permitir que uma classe ou coletividade se manifeste de modo a tornar público
seu posicionamento ideológico, anseios e reivindicações.
Neste útlimo aspecto, esse gênero
textual muitas vezes transcende o suporte do papel que é tirado de um envelope,
passando a figurar na mídia impressa, como em jornais e revistas, e até mesmo
na mídia eletrônica, como em sites e na TV.
O presente capítulo objetiva tratar
da Carta Argumentativa, cuja característica peculiar é a de assumir o caráter
dissertativo-argumentativo. Esse tipo de carta pode
se desdobrar em Carta de Leitor, Carta do Editor, Carta Aberta e Carta de
Reclamação, por exemplo, porém caracteriza principalmente a correspondência
destinada a expor determinados problemas, solicitando ou deixando implícita a
necessidade de que sejam tomadas certas providências.
Observe a carta a seguir:
Rio de Janeiro, 11 de abril de 1940.
Excelentíssimo Sr. Presidente da República Getúlio Vargas,
Venho solicitar a clarividente atenção de Vossa Excelência
para que seja conjurada uma calamidade que está prestes a desabar em cima da
juventude feminina do Brasil. Refiro-me, senhor presidente, ao movimento
entusiasta que está empolgando centenas de moças, atraindo-as para se
transformarem em jogadoras de futebol, sem se levar em conta que a mulher não
poderá praticar este esporte violento sem afetar, seriamente, o equilíbrio
fisiológico das suas funções orgânicas, devido à natureza que a dispôs a ser
mãe.
Ao que dizem os jornais, no Rio de Janeiro, já estão
formados nada menos de dez quadros femininos. Em São Paulo e Belo Horizonte
também já estão se constituindo outros. E, neste crescendo, dentro de um ano, é
provável que em todo o Brasil estejam organizados uns 200 clubes femininos de
futebol: ou seja: 200 núcleos destroçados da saúde de 2,2 mil futuras mães,
que, além do mais, ficarão presas a uma mentalidade depressiva e propensa aos
exibicionismos rudes e extravagantes.
Atenciosamente,
José Fuzeira
(Adaptado de Coluna Pênalti. Carta Capital. 28 abr. 2010. in ENEM 2010)
É possível notar no exemplo a
organização dos elementos característicos a qualquer carta:
- Local e data: Rio de Janeiro, 11
de abril de 1940.
- Vocativo: Excelentíssimo Sr.
Presidente da República Getúlio Vargas.
- Corpo da carta: solicitação e
argumentos que justificariam a carta.
- Despedida cortês: Atenciosamente.
- Identificação do remetente: José
Fuzeira.
Toda carta, portanto, apresenta
informações pontuais quanto ao contexto em que foi produzida (local e data), a
quem é ou foi destinada, bem como a identificação de quem a escreveu. A esses
elementos somam-se, no vocativo, o tratamento respeitoso ao receptor e, ao
final, a despedida cortês. Ou seja, sua estrutura é bastante simples e em nada
difere do que é praticado no universo eletrônico dos e-mails com finalidade
mais formal.
A linguagem empregada nesse gênero
textual, via de regra, obedece à formalidade ou informalidade definida pelo
contexto e pelo grau de intimidade entre os interlocutores. Disto também
dependerá o tratamento dispensado ao receptor.
Em contextos formais, deve-se, no
entanto, evitar rebuscamentos e preciosismos ao escrever, pois a simplicidade
no estilo tornam o texto agradável e objetivo.
Vale ressaltar que a carta acima,
embora apresente ideias hoje consideradas absurdas, bem como uma linguagem
ultrapassada, pertence a um momento histórico e social no qual não seria capaz
de provocar estranhamento, a não ser
talvez por parte de alguns que divergissem acerca do posicionamento do emissor
quanto ao assunto em questão.
Ao redigir uma carta em uma prova
vestibular, o candidato deve considerar, acima de tudo, as instruções do
enunciado da questão, as quais costumam apresentar algumas modificações. Uma
delas é a necessidade de se suprimir a identificação final (assinatura),
substituindo-a ou por uma letra (M. – exemplo) ou por um nome específico (João;
Maria – exemplo). Nos casos em que se solicite o uso de nome João, por exemplo,
o candidato não deve improvisar colocando um sobrenome (João da Silva) ou
fazendo uma brincadeira (João Ninguém). Em alguns vestibulares exige-se que o
candidato não escreva identificação alguma. Essa adaptação tem por objetivo
evitar que haja qualquer tipo de identificação do candidato por parte do
corretor, o que poderia comprometer a credibilidade do vestibular.
- Quanto ao
local e data:
- Respeitar
o local em que é feita a prova e a data do dia do exame. Ex.: Ponta Grossa, 22
de novembro de 2011.
Obs.: Em alguns vestibulares, esses elementos são
dispensáveis.
- Quanto ao
vocativo:
- O vocativo
jamais pode ser esquecido. Alguns exemplos são: Caro editor; Prezado Sr.
Ministro; Prezada jornalista.
Obs.: Existem pronomes de tratamento adequados para certas
autoridades, sugere-se, portanto, que se consulte uma gramática. Porém, os
pronomes Sr. e Sra. sempre podem ser empregados em substituição aos demais.
- Quanto ao
corpo da carta:
- O conteúdo
da carta deve sempre conter as informações básicas relacionadas ao assunto a
ser apresentado e desenvolvido. Isto é, o parágrafo inicial precisa conter
informações que contextualizem o receptor quanto ao tema tratado e sua
importância. No desenvolvimento do texto, devem ser apresentados argumentos que
serão concluídos de modo a reforçar a importância daquilo que foi solicitado ou
apontado inicialmente como relevante.
Obs.: Existem expressões gastas que devem ser evitadas. Ex.:
“Venho por meio desta solicitar”. Sugestão: “Gostaria de solicitar”.
- Quanto à
despedida cortês:
- Atenciosamente;
Sem mais; Desde já agradeço – são eficientes modos de encerrar uma carta formal.
Dentro do gênero Carta Argumentativa, existem as também
chamadas cartas de réplica e tréplica, cuja única característica reside no fato
de serem originadas como respostas a argumentos de cartas anteriores.
Por exemplo:
Antônio escreve à diretora Marília tecendo críticas à sua
administração. (Carta Argumentativa)
Marília responde à Antônio, apresentando contra-argumentos
às críticas. (Carta Réplica)
Antônio responde à diretora, reafirmando seus
argumentos e elencando outros. (Carta Tréplica)
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