PROPOSTA DE REDAÇÃO
Para fazer a redação, leia a coletânea a seguir.
1) Esporte
A célebre frase latina mens sana in corpore sano (mente sã
em corpo são) ilustra o fato de que o homem sempre sentiu necessidade de
exercitar seu corpo para poder alcançar um equilíbrio psíquico completo.
Em geral se consideram esportes as atividades de recreio ou
competitivas que exigem certa dose de esforço físico ou de habilidade. Podem
ser individuais ou coletivos. No passado só eram considerados esportes as
atividades recreativas praticadas livremente, como a pesca e a caça, em
contraposição aos jogos, competições atléticas organizadas de acordo com regras
determinadas. A distinção entre esportes e jogos hoje é menos clara, e com
freqüência os dois termos são usados de forma indistinta.
Desde o início, o objetivo principal do esporte foi a
conservação ou o incremento de atributos físicos como a agilidade ou a força. O
esporte ajuda também a fomentar certas qualidades espirituais como a coragem, a
disciplina e a constância. Não obstante, fica patente também que a finalidade
concreta de toda atividade desportiva organizada está em conseguir recordes -
os melhores resultados possíveis na prática de algum esporte - ou em derrotar
um oponente; daí a organização dos campeonatos ou desafios desportivos, que se
realizam a intervalos determinados.
Todo esporte pressupõe um fator de competitividade, que
induz o desportista a lutar e a se esforçar para vencer uma série de
dificuldades frente a um adversário. Normalmente o adversário é um outro
desportista, mas nem sempre é assim, já que às vezes o objeto da luta é vencer
a própria natureza ou enfrentar a sorte.
(...)
Da Idade Média até o século XIX
Após a queda do Império Romano, as práticas desportivas
sofreram enorme decadência. Durante a Idade Média, verificou-se uma acentuada
diferenciação entre as atividades das classes altas e baixas. Enquanto os
nobres se dedicavam a desenvolver suas aptidões guerreiras em torneios e
combates, além de praticar a equitação e a caça, o povo tinha grande apego aos
jogos de bola.
No Renascimento, continuaram a ser cultivadas as mesmas
atividades desportivas. Não obstante, houve um abrandamento na violência dos
torneios, em consonância com as novas concepções humanistas.
Mundo moderno
O esporte como tal renasceu na Europa no século XIX. A
crescente aglomeração populacional nas cidades propiciou o interesse pelas
atividades físicas, e a existência de uma população estável possibilitou a
formação de equipes e a organização de competições segundo regras determinadas,
regidas por órgãos locais ou nacionais (federações, comissões).
Além disso, surgiram novos esportes, uns motivados pelo
desejo de contato com a natureza - esqui, montanhismo -, outros pela invenção
de veículos como a bicicleta e o automóvel. O progresso das comunicações, fosse
por ferrovias, rodovias ou vias aéreas, favoreceu também as associações
desportivas no plano nacional e internacional.
2) Obcecados por projeção geopolítica, Estados concentram
nos atletas de elite recursos negados a desporto popular e promoção da vida
saudável.
Por Ian
Johnson, no New York Review of Books | Tradução: Daniela Frabasile
É possível acompanhar os Jogos Olímpicos de duas maneiras. A
primeira é a certa: você presta atenção nos atletas e torce por boas
performances. Você os vê chorar e se abraçar de felicidade ou olha feio por um
mau desempenho. Você simpatiza com eles como seres humanos e debate se Michael
Phelps é o melhor atleta olímpico de todos os tempos ou apenas o melhor
nadador. Você pensa sobre doping, mas tenta acreditar que as agências esportivas
o mantém mais ou menos sob controle.
E também há o meu jeito de assistir à Olimpíada: como um
estudo estatístico sobre geopolítica e políticas públicas destrutivas. Os
indivíduos importam, até certo ponto – mais como produtos do sistema do que
como personalidades distintas. Admiro o desempenho do chinês Ye Shiwen, mas me
pergunto mais sobre por que os técnicos de natação do país recebem quase tanto
quanto os investimentos que o governo central gasta com a preservação da cultura
popular, quase morta no país. Acho que Phelps é um grande espécime físico, mas
me pergunto por que os norte-americanos ficam cada vez mais gordos. (...)
As Olimpíadas costumavam ser mais fáceis de acompanhar. Nos
primeiros cinquenta anos, eram um evento muito menor, comumente interrompido
por guerras. Apenas Hitler parecia perceber o potencial de relações públicas
dos jogos. Então, veio a Guerra Fria e as disputas tornaram-se um campo de
batalha para ideologias rivais. Países como a Alemanha Oriental e a União
Soviética gastavam enormes somas em esportes, como uma forma de ganhar
reconhecimento. Especialmente a Alemanha Oriental, que precisava de
respeitabilidade, tinha um desejo quase patológico sobre o sucesso nas
Olimpíadas. Em apenas cinco edições, o país ganhou 409 medalhas.
A maior parte das pessoas pensa que o sucesso do antigo
bloco socialista era apenas uma questão de doping generalizado – mulheres com
pomo-de-adão e barba. Mas os países inteligentes perceberam que havia outras
explicações para o sucesso. Os países do Pacto de Varsóvia gastaram muito em
esportes, é verdade, mas a chave era que eles se concentravam apenas nos
atletas com chances de ganhar medalha. A Alemanha Oriental, por exemplo, nunca
se importou com hóquei no gelo, porque percebeu que teria de treinar pelo menos
uma dúzia de atletas de elite para montar um time – e mesmo assim, seria
difícil competir com as potências estabelecidas. Ao invés disso, focou-se nos
esportes em que um atleta poderia ganhar várias medalhas – ciclismo, por
exemplo. Isso também evitava esportes que dependem de equipes (basquete,
basebol, hóquei no gelo e outros): era melhor apoiar atletas que treinavam
sozinhos por precisarem de menos infraestrutura. E é claro que atletas como
Katarina Witt ganharam bastante dinheiro – e visibilidade nacional – para fazer
disso uma profissão. Amadorismo era para perdedores.
Mesmo antes de a Guerra Fria acabar, os países ocidentais
imitaram essas táticas. A Coreia do Sul chamou muita atenção nos Jogos
Olímpicos de Seul, em 1988, ao ganhar mais medalhas que a Alemanha Oriental e
acabar em quarto lugar no quadro de medalhas. A Austrália foi ainda mais longe:
depois de não ganhar nenhuma medalha de ouro nos jogos de Montreal, em 1976,
montou uma burocracia de esportes centralizada, que estabeleceu novos padrões
atléticos e canalizou recursos para programas de treinamento e especialmente
para os ganhadores. Apesar da pequena população, o país ficou em quarto lugar
no quadro de medalhas de Sidney e Atenas (caiu para sexto em Beijing e
aparentemente está ainda pior, em Londres).
Os problemas da Austrália refletem o acirramento da
competição e o fato de as democracias terem maior dificuldade em financiar
pesadamente luxos como esportes. Outros países, com ainda mais habitantes e
dinheiro, começaram a canalizar recursos para a elite esportiva com grande
chance de ganhar medalha. Curiosamente, o Comitê Olímpico Internacional (COI)
implicitamente apoia esta mentalidade da medalha de ouro. Seu site não estampa
um quadro de medalhas, mas apenas uma classificação dos países segundo as
medalhas de ouro alcançadas. As de prata e bronze são contabilizadas apenas
como desempate. Isso evidencia o que apenas os norte-americanos classificam: os
países pelo total de medalhas. Para todos os outros no mundo, o ouro é o que
importa.
Ainda mais notável é que a Alemanha mudou de rumos e começou
a retomar a política da Alemanha Oriental em favor de escolas atléticas. A
peça central é o enorme Centro de Ensino e Performance em Esporte, em um
subúrbio de Berlim Oriental, não distante da prisão da Stasi em
Hohenschönhausen (isso não é um tiro no escuro; os dois eram parte do aparato
de domínio do partido). Por anos, a escola apodreceu, com apenas um pequeno
setor, que funcionava como estabelecimento de ensino médio. Agora, está sendo
renovada. A piscina foi reaberta e antigos treinadores da Alemanha Oriental
foram trazidos de volta. Apesar do doping ser banido e de os regimes de treino
não serem tão extremos, é uma mudança radical para um país que estava
revoltado com os excessos da máquina de esportes da Alemanha Oriental, fechada
quase completamente nos anos 1990. (...)
http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/geopolitica-e-o-investimento-estatal-em-esportes-olimpicos
3) Função social do esporte
O esporte deve ser entendido e tratado como um fenômeno
social e político, capaz de influenciar o conjunto de transformações culturais
de uma sociedade. Rico nas suas relações ativas e dinâmicas do grupo social,
ele é a representação viva das manifestações de ludicidade e criatividade do
movimento de um povo. Produz e reproduz a identidade cultural, contribuindo de
forma decisiva nos processos de mudança social, formação educacional e de
consolidação desta identidade.
http://www.periodicos.ufsc.br/index.php/motrivivencia/article/view/19978
4) Antes de 2016, ano da Olimpíada, o Rio de Janeiro precisa
dar fim a um problema que perdura há décadas, e só piora: na região em torno da
futura sede olímpica, na Zona Oeste da cidade, impera a mais completa desordem
urbana. Um levantamento sobre a área, com base em dados da prefeitura, revela
não apenas a existência de dez favelas, que ali proliferam livremente, como
também a de 191 condomínios de classe média em que 8.000 pessoas residem, a
maioria sem pagar sequer IPTU. Sob o olhar complacente do poder público, boa
parte dessas casas é abastecida de água e luz por meio de ligações
clandestinas. Trata-se de um retrato acabado de anos a fio de domínio da região
por quadrilhas de grileiros. No controle da área, que equivale a três vezes a
de Copacabana e se estende por quatro bairros, eles chegam a circular armados,
em plena luz do dia, sem que nenhuma autoridade coíba sua ação – cena de
faroeste. À base da força, os bandidos vão se apoderando dos terrenos, que
passam adiante a preços de mercado, como se o negócio fosse legal. É justamente
a não mais que cinco minutos de carro dali que será erguido o maior dos quatro
polos com instalações olímpicas no Rio – com quatro estádios, centro de
imprensa e alojamento para os atletas. Arquiteto responsável pelos projetos de
infraestrutura nos Jogos de Barcelona, em 1992, o catalão Lluís Millet lança
luz sobre as consequências do caos vizinho ao polo: "Além de insegurança,
a desordem representa um obstáculo para que o Rio se desenvolva com a
Olimpíada".
Tradicionalmente, a região no entorno dos centros olímpicos
experimenta um surto de crescimento à medida que obras de estruturas previstas
para os Jogos começam a ser colocadas de pé. Com maciços investimentos em novas
vias de acesso à área e mais transporte público, os terrenos situados em volta
dos estádios costumam subir de preço em ritmo acelerado, desencadeando um ciclo
virtuoso que traz riqueza à cidade. Diante da perspectiva de valorização
imobiliária, as construtoras passam a investir nessas regiões (em geral menos desenvolvidas),
o que faz aumentar ali a oferta de imóveis de bom padrão, atrai moradores de
maior poder aquisitivo e leva ao florescimento do comércio – como se viu em
Barcelona e, mais recentemente, em Pequim. Em Londres, sede dos Jogos de 2012,
esse processo corre a pleno vapor na região de East End, bairro tomado por
fábricas abandonadas que, até há pouco tempo, era sinônimo de decadência. O
avanço econômico em todos esses casos é impulsionado por um ambiente de
negócios pavimentado sobre a legalidade e com regras claras, pré-requisitos
básicos a que o Rio de Janeiro não atende. Diz o economista André Urani:
"O Rio tem um problema crônico de falta de respeito ao direito de
propriedade – o que, no caso específico da Olimpíada, pode trazer enormes prejuízos."
5) A cidade renasceu
Barcelona é o melhor exemplo de como se desenvolver
com uma Olimpíada: uma lição para o Rio de Janeiro
O cenário atual já aponta nessa direção. Para se ter uma
ideia, a seis anos dos Jogos, as construtoras inglesas não só haviam começado a
adquirir terrenos vizinhos ao sítio olímpico londrino como plantavam ali novos
edifícios – coisa que no Rio, à mesma distância de tempo da Olimpíada, está
longe de acontecer. "Nenhum empresário com um mínimo de sanidade vai se
aventurar por uma terra sem estado nem lei", resume Rogério Chor,
presidente da construtora CHL, uma das maiores no país. Um novo estudo do
Sindicato da Habitação (Secovi) ajuda a dimensionar o problema: ele mostra que
o metro quadrado nas regiões vizinhas à sede dos Jogos, que hoje vale 650
reais, poderia estar custando o dobro caso ali vigorasse a lei. Entre outras
variáveis, o cálculo considera a valorização já registrada nos empreendimentos
próximos dessa área, só que plantados sobre terrenos a salvo da ação dos grileiros.
Toda essa vizinhança olímpica é considerada a nova fronteira de expansão do
Rio, uma vez que a Zona Sul da cidade, que fica espremida entre o mar e as
montanhas, está completamente saturada. Por isso, o rol de ilegalidades que
reina ali representa um entrave ao crescimento da própria cidade.
Desde que o Rio foi apontado como sede para a Olimpíada de
2016, não houve nenhum avanço na região – apenas retrocessos. Com a chance de
valorização dos terrenos, os grileiros trataram de acelerar as invasões. Um sinal
disso é o número de processos movidos pelas próprias quadrilhas, que tentam
legitimar a propriedade da terra usurpada por meio de ações judiciais (o que às
vezes conseguem). Enquanto antes do anúncio dos Jogos havia apenas dezoito
dessas ações, hoje tramitam 106 delas. Vítima do golpe, a psicóloga Maria
Cristina Ihssen, 55 anos, que desembolsou 60.000 reais por um lote grilado,
descreve assim o cenário: "Aquilo ali é uma selva no meio do Rio de
Janeiro". Depois de décadas de ausência do estado nessa terra de faroeste,
a iminência dos Jogos finalmente escancara o problema – e torna premente a sua
solução.
http://veja.abril.com.br/280410/faroeste-olimpico-p-134.shtml
PROPOSTA
Com base na leitura da coletânea, escreva uma dissertação
argumentativa respeitando o tema: O esporte como agente transformador da
sociedade. Apresente experiência ou proposta de ação social que respeite os
direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa,
argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.
- Desenvolva seu
texto em prosa, atribuindo-lhe um título.
- Sua
dissertação deverá ter no mínimo 15 e no máximo 30 linhas.
- Não
parafraseie o conteúdo dos textos de apoio.
- Utilize a
norma padrão da língua.
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