MODELO DE ARTIGO DE OPINIÃO – ESCOLA
SEM PARTIDO
Posso falar?
Não deve ser
segredo ao caro leitor que existe proselitismo partidário, ideológico e
religioso em algumas escolas, muitas vezes protagonizado por professores que
exacerbam seu papel de ensinar ao apresentar de modo apaixonado seus pontos de
vista. Contudo, recentemente, causou-me certa surpresa a divulgação do projeto
de lei Escola sem Partido que, a pretexto de combater essa prática em nome da
neutralidade, parece piorar a situação. Caso aprovado, a Educação estará na
berlinda, uma vez que dará aos pais o poder de arbitrar sobre o conteúdo
ministrado a seus filhos, bem como a possibilidade de denunciar à Secretaria da
Educação professores que contrariem a suposta imparcialidade esperada no
processo de ensino.
Desse modo, ao
se criar um canal direto com o poder público, ignora-se a habilidade de
mediação de coordenadores e diretores, e instaura-se uma espécie de patrulha
ideológica nas escolas, pautada pela livre interpretação de alunos e pais que,
a despeito de certa ignorância acerca de assuntos acadêmicos, promoverão um
estado de tensão entre os professores. Assim, muitos educadores serão tolhidos
tanto em seu direito de se expressar como até de lecionar temas como
evolucionismo, reprodução, educação sexual, socialismo, anarquismo,
neoliberalismo, questões de gênero, cultura afro-brasileira – só para citar
alguns exemplos. Certamente, como alegam alguns, o proselitismo partidário será
inibido - mas a que custo?
Em contrapartida, é importante lembrar que não
existe imparcialidade ideológica em nenhuma escola ou instituição do Brasil.
Aliás, a ideologia de Estado que se impõe a todas as outras está expressa na
Constituição. Nela se lê, desde 1988, o valor ideológico máximo e moral que
deve reger as relações em nosso país: “Todos nascemos livres e iguais em
dignidade e direitos”. Dessa máxima desdobram-se todas as outras, como as
liberdades de consciência, crença, pensamento, opinião, expressão e tantas
mais. Sendo assim, em vez de instaurar o espírito de delação, medo e contenda
entre pais, mestres e alunos, por que não aprovar logo o projeto de lei
engavetado atualmente no Congresso que institui o estudo da Constituição no
ensino médio? Tenho certeza de que seria muito mais útil tanto aos alunos como
à própria democracia.
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