MODELO TEXTO ENSAÍSTICO: APARÊNCIAS NA ERA DA INTERNET
Sobre imagens e labirintos
A valorização da aparência em detrimento da essência sempre intrigou diferentes povos ao longo do tempo. Os gregos, por exemplo, foram pródigos em criar mitos e lendas que alertam para essa questão. Seja pela engenhosidade do Cavalo de Troia, narrada na Ilíada, ou no popular mito de Narciso, contado até em histórias infantis, os prejuízos que a ilusão e o autoengano podem causar são muito bem ilustrados e indiscutivelmente postos à nossa reflexão.
Não bastassem as alegorias, a Filosofia também deixou-nos um importante legado, tanto na área da Estética quanto no estudo da moralidade, da ética e da virtude. Nesse sentido, criou-se uma associação cuja finalidade era a de considerar verdadeiramente belo aquilo que fosse concomitantemente útil e virtuoso. Apesar disso, infelizmente, essa reflexão, ainda que profunda e antiga, parece distante da contemporaneidade.
É, no entanto, imperioso ressaltar que o senso crítico e o autoconhecimento nunca foram tão necessários como agora. Isso porque o advento das redes sociais a partir do início deste século potencializou o culto à autoimagem e, com o auxílio dos smartphones, inaugurou a era das selfies - que elevam o grau de importância da futilidade - e dos vídeos e postagens de opinião - frequentemente pautados pelo gosto à polêmica ao invés da relevância do conteúdo.
Desse modo, vemo-nos até certo ponto reféns do que o sociólogo polonês Zygmunt Bauman chamou de Modernidade Líquida, na qual valores tornam-se imprecisos, relações se estabelecem no campo da superficialidade, pessoas assumem máscaras sociais, apaixonam-se por avatares e, por fim, consomem-se como Narciso a contemplar a própria aparência. Assim, se formos incautos, poderemos colocar em xeque o significado de nossa própria existência, perdidos em um emaranhado de imagens e em labirintos nos quais nos esquecemos de nossa essência verdadeira.
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