Identidade brasileira: pura diversidade
"Somente a Antropofagia nos une" - por meio dessa célebre frase, o poeta modernista Oswald de Andrade defende a ideia de que a identidade brasileira resulta da mistura de elementos culturais de matrizes indígenas, africanas e europeias. Em 1967 a mesma bandeira foi levantada pelo Tropicalismo de Gil, Caetano e outros artistas. Contudo, apesar de o Brasil ter testemunhado movimentos de vanguarda tão relevantes no campo das artes e da música, ainda há quem utilize o conceito de apropriação cultural para fazer acusações contra pessoas e artistas.
Por outro lado, não se pode negar a existência desse fenômeno, assim como também é forçoso observar que, não existindo raça pura - conforme comprova o projeto Genoma -, não há lugar para o conceito de pureza cultural. Mesmo um estudo superficial de História demonstra que a chamada cultura hegemônica é fruto de inúmeras apropriações culturais ao longo do tempo. Assim, gregos, hebreus, celtas, polinésios, indígenas, enfim, os mais diferentes povos deixaram suas marcas para posteridade devido a esse processo.
Outro aspecto relevante no caso específico do Brasil é que o intenso processo de miscigenação ocorrido no país gerou uma enorme dificuldade para se declarar o pertencimento a uma etnia ou grupo no próprio Senso do IBGE. Assim, alguns se autodefinem como negros, indígenas, pardos e amarelos, ainda que não sejam percebidos socialmente dessa forma. Por esse motivo, torna-se praticamente impossível julgar quem quer que seja de fazer apropriação cultural. Isso para não citar questões como sociedade de consumo, indústria cultural e cultura de massa.
Portanto, mesmo que pesem as críticas e a relevância da discussão, ainda é importante considerar que o Brasil, além de um país multicultural e miscigenado, possui uma constituição que preza pelas liberdades de pensamento, opinião, crença e expressão. Assim sendo, diante de uma questão como essa, é essencial que as escolas e a mídia divulguem ao máximo as diferentes expressões culturais do país, bem como os valores constitucionais de respeito e tolerância. Somente assim, a antropofagia contribuirá para unir, antes que a ideia de pureza demonstre seu poder desagregador.
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