Gênero textual:
Resenha
O
texto a seguir pertence ao gênero resenha. Como tal, possui função específica
que determinará seu conteúdo, a forma de exposição de ideias, linguagem e
abordagem do tema. Leia-o e procure identificar essas características.
Um gramático
contra a gramática
Gilberto Scarton
“Língua
e Liberdade: por uma nova concepção da língua materna e seu ensino”[1]
(L&PM, 1995, 112 páginas) do gramático Celso Pedro Luft[2]
traz um conjunto de ideias que subverte a ordem estabelecida no ensino da
língua materna, por combater, veemente, o ensino da gramática em sala de aula.
Nos 6 pequenos
capítulos que integram a obra, o gramático aborda, intencionalmente, de maneira
enfática [4] o mesmo tema: a
maneira tradicional e errada de ensinar a língua materna, as noções falsas de
língua e gramática, a obsessão gramaticalista, inutilidade do ensino da teoria
gramatical, a visão distorcida de que se ensinar a língua é se ensinar a
escrever certo, o esquecimento a que se relega a prática linguística, a postura
prescritiva, purista e alienada - tão comum às "aulas de português"[3].
O velho pesquisador
apaixonado pelos problemas da língua, teórico de espírito lúcido e de larga
formação linguística e professor de longa experiência leva o leitor a discernir
com rigor gramática e comunicação: gramática natural e gramática artificial;
gramática tradicional e linguística; o relativismo e o absolutismo gramatical;
o saber dos falantes e o saber dos gramáticos, dos linguistas, dos professores;
o ensino útil, do ensino inútil; o essencial, do irrelevante.
Essa fundamentação
linguística de que lança mão - traduzida de forma simples com fim de difundir
assunto tão especializado para o público em geral - sustenta a tese do Mestre,
e o leitor facilmente se convence de que aprender uma língua não é tão
complicado como faz ver o ensino gramaticalista tradicional[4].
É, antes de tudo, um fato natural, imanente ao ser humano; um processo
espontâneo, automático, natural, inevitável, como crescer. Consciente desse
poder intrínseco, dessa propensão inata pela linguagem, liberto de preconceitos
e do artificialismo do ensino definitório, nomenclaturista e alienante, o aluno
poderá ter a palavra, para desenvolver seu espírito crítico e para falar por
si.
Embora Língua e
Liberdade do professor Celso Pedro Luft não seja tão original quanto pareça ser
para o grande público (pois as mesmas concepções aparecem em muitos teóricos ao
longo da história), tem o mérito de reunir, numa mesma obra, convincente
fundamentação que lhe sustenta a tese e atenua o choque que os leitores -
vítimas do ensino tradicional - e os professores de português - teóricos,
gramatiqueiros, puristas - têm ao se depararem com uma obra de um autor de
gramáticas que escreve contra a gramática na sala de aula[5].
(Adaptado
de: http://www.pucrs.br/gpt/resenha.php)
Observe
a legenda:
[1] Citação bibliográfica.
2 Citação do autor.
3 Apresentação do conteúdo da obra analisada.
4 Emissão de opinião do resenhista –
observe o advérbio “facilmente” e o verbo “se convence”.
5 Opinião
conclusiva do autor.
Os trechos destacados ao
longo da resenha possuem equivalentes em todo o texto, por meio de uma leitura
atenta, procure encontrar:
- Outra citação
bibliográfica do mesmo livro;
- Outra citação do
autor;
- Mais referências
sobre o conteúdo da obra;
- Mais referências sobre
o autor;
- Mais trechos em que
estejam evidentes os pontos de vista do resenhista (adjetivos valorativos,
advérbios ou verbos por meio dos quais sejam percebidos
valores do próprio resenhista).
Analisando-se a
resenha, portanto, percebe-se que as diferentes informações quanto ao conteúdo
da obra e quanto à avaliação do resenhista estão unidas de forma coesa, como a
formar uma só trama. Não se encontram parágrafos destinados somente ao conteúdo
ou apenas à crítica. Essa unidade é bastante importante em qualquer texto desse
tipo.
Leia essa
outra resenha e atente para a linguagem empregada:
DVD
UMA VERDADE
INCONVENIENTE (An Inconvenient Truth, Estados Unidos. 2006. Paramount) - Al
Gore passou décadas de sua carreira fazendo papel de chato ao falar
insistentemente sobre um problema que parecia distante, o aquecimento global.
Ficou com fama de bobão e, como se sabe, perdeu a eleição para George W. Bush
de forma nebulosa. Enquanto a popularidade do atual presidente despenca,
entretanto, a dele anda nas alturas - até em Prêmio Nobel já se fala. Tudo
graças a esse bem urdido documentário sobre o tema mais caro ao ex-presidente
vice-presidente-presidente: as mudanças climáticas. Envolvente, ritmado e
didático sem ser condescendente, o filme chega ao DVD com dados atualizados em
relação à versão vista no cinema e é um programa quase que obrigatório para quem
deseja entender por que o clima anda tão louco e o que se pode fazer, no dia,
para não agravar o problema.
(Revista Veja, São
Paulo, 07 fev. 2007.)
CONCEITUANDO
A
resenha não se trata de um texto muito longo; dotada de título original, tem como
objetivo chamar a atenção do leitor de modo a apresentar-lhe apreciações
críticas e de conteúdo a respeito de uma obra científica, filosófica ou
literária (resenha crítica), podendo também abarcar coletânea de textos de
variados tipos (resenha temática), analisados como um todo ou individualmente.
Considerando-se o universo da escrita apenas, as resenhas, portanto, são textos
em 3a pessoa que se apoiam em outros textos, assim como os resumos,
e que, no entanto, diferente destes, além de apresentarem de modo sucinto
determinado conteúdo, ocupam-se deste último com uma abordagem na qual a
opinião do resenhista recebe atenção especial. Neste aspecto, aquele que a
escreve, além de apresentar os próprios pontos de vista, é capaz de influenciar
a opinião alheia quanto à determinada
obra, filme etc.
No cotidiano, esse
gênero textual costuma aparecer em jornais, revistas, sites especializados e blogs,
podendo assumir até uma linguagem mais descontraída. No meio acadêmico, no
entanto, privilegia-se a formalidade na abordagem do conteúdo e na construção
de argumentos.
Embora alguns autores
nomeiem algumas categorias de resenhas, em sua essência e estrutura todas
apresentam os mesmos elementos:
- título;
- citação bibliográfica;
- citação do autor (sua
biografia - opcional);
- apresentação sucinta
do conteúdo do objeto tratado;
- análise e crítica do
resenhista, expressando juízo de valor.
É importante observar
que a crítica do resenhista não deve ter por base simplesmente o campo de suas
impressões, pelo contrário, suas opiniões precisam ser sustentadas por
argumentos que persuadam o leitor de que a tese defendida na resenha é digna de
crédito, ou seja, toda resenha possui um caráter dissertativo.
Na crítica, costuma-se
expor um ponto de vista favorável ou desfavorável ao objeto tratado, contudo
não se descarta a possibilidade de relativização entre prós e contras de
determinado texto ou obra.
Sugestão de trechos:
- Com
adjetivos valorativos:
a) A obra é – reveladora; importante;
essencial; problemática; polêmica; descompromissada; recomendável.
b) O autor é – enfático; modesto;
contundente; desafiador; radical.
c) O estilo do autor é / a abordagem do
autor é – discutível; exemplar; confuso(a); irreverente.
d) O tema é – relevante; muito atual;
pertinente; desconcertante.
- Com
advérbios ou locuções adverbiais:
a) O autor escreve -
com desenvoltura; ritmadamente; didaticamente; tediosamente; com originalidade.
b) É necessário ler –
atentamente; analiticamente; com espírito crítico.
c) No texto, aborda-se
o assunto – com audácia; com cautela; com sensibilidade.
d) O tema é tratado –
de forma irreverente; de maneira convencional; de maneira preconceituosa.
Sugestões:
- Antes de produzir
uma resenha, procure elencar de forma objetiva as informações mais relevantes
do texto (O quê, Quem, Quando, Como, Onde e Por quê).
- Procure pensar em
elementos do texto como: tema, intencionalidade, linguagem, aspecto biográfico
do autor.
- Para as informações
elencadas, procure atribuir valores positivos ou negativos sobre os quais se
possa argumentar de maneira convincente.
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