Anônimo disse...
Professor, qual é o lado certo
dessa história:
*leia o colunista e depois os três
comentários
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/gilbertodimenstein/1135006-somos-refens.shtml
sexta-feira, 10 agosto, 2012.
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Caro Anônimo,
primeiramente fico muito feliz que
alguém acredite que eu possa arbitrar a respeito de algum lado
"certo" da história. Principalmente quando a "contenda" em
questão é "briga" de cachorro grande: um articulista da Folha versus,
possivelmente, professores universitários.
E nessa brincadeira vem você, mui
amigo, me promovendo de professor não-universitário a juiz, logo eu, que pouco
"articulo" e quase nada "professo"?
Desculpe-me, me abstenho, não quero julgar... porém vou fazer um esforço para levantar uma bola, a qual deixo para
que outro chute, claro, se quiser... Para isso, entretanto, tenho na manga algo
que advoga em favor do autor do texto: chama-se gênero textual. Vamos lá...
O que o Gilberto Dimenstein fez
foi um curto artigo de opinião, um gênero textual que a gente vai estudar muito
em breve (caso você seja meu aluno, claro). Respeitando as características de
um artigo, ele o fez corretamente, abordando de forma pertinente o tema: atacou
o senso comum (os professores devem receber melhor remuneração), fez uma
provocação (a estabilidade dos funcionários públicos permite que muitos se
acomodem de modo a não se comprometerem com seu próprio trabalho - como
deveriam) e apresentou uma abordagem inesperada para o tema (aumenta-se o
salário do servidor, aumentam-se os impostos).
Portanto, as questões levantadas
por ele são dignas de reflexão e, em contrapartida, parecem um ataque aos
professores, assim como um posicionamento que o alinharia a um discurso
pró-governo, o que, de fato, não acontece. Porém, com uma leitura mais atenta,
percebe-se que não se trata disso. Na verdade, é um texto feito para polemizar
e provocar reflexões - como deve ser todo bom artigo.
Por outro lado, o direito do
servidor público de ter reajustado seu salário, como é destacado no primeiro
comentário, é correto e mais do que justo. Esse é um direito trabalhista,
conquistado e que de modo algum pode ser ignorado ou criticado pelo governo ou
pela sociedade.
Observe, porém, que a grande
questão do artigo não é a legalidade da greve, pois Dimenstein não propõe
argumentos contra os direitos dos professores. Ou seja, o que é escrito no
comentário não vai de encontro nem ao encontro do que é afirmado no artigo, mas
vai de encontro a uma “sensação” que o artigo provoca, o que é algo bem
diferente. (A saber: a sensação a que me refiro é a de que Dimenstein seja
contra o aumento para os professores – o que não é o caso).
Há também outro comentário que
ataca o articulista ao apresentar a relação: boa remuneração - boa qualidade -,
o que é uma simplificação completa da questão, pois a boa remuneração,
oferecida sem condicões que orientem a conduta dos profissionais, não resulta
em boa qualidade, pelo contrário. Basta notar aquilo que nós testemunhamos o
tempo todo na política do país: candidatos a sálarios e mordomias que se fingem
de candidatos a gestores públicos comprometidos com a responsabilidade que seus
cargos sugerem – que, aliás, de “cândidos”, como sugere o nome, não têm nada.
Tanto os candidatos como qualquer
servidor público, professor ou não, conhece muito bem a “fisiologia” do
sistema, na qual alguns são profissionais sérios que puxam a carroça, enquanto
outros são apenas pessoas acomodadas na estabilidade de seus cargos que vão no
andor da carruagem “celebrando a vida”. Em um sistema no qual se valorizam os
méritos, como propõe Dimenstein, os bons profissionais acabam sendo mais
valorizados, inclusive financeiramente, como ocorre no setor privado, por
exemplo.
Por esse motivo, a partir do
título “Somos reféns”, podemos interpretar que, do ponto de vista do autor (com
o qual concordo), a gestão pública ao tratar questões de salário, reduzindo-as
simplesmente a uma perspectiva de esfera política, onera o cidadão com suas
decisões. É um ônus que se reflete em dois sentidos: material – com o aumento
dos impostos; e imaterial: com a qualidade pouco satisfatória dos serviços.
É por isso que, para encerrar a
sessão, declaro que:
1- Dimenstein levou 10 no artigo,
que fez o principal: motivou pessoas como você, eu e os comentaristas a
refletirem sobre um assunto de maneira um pouco mais profunda do que
simplesmente recomenda o senso comum.
2- Os comentaristas também tiraram
uma boa nota (não 10), porque, ao exporem seus pontos de vista, permitiram que
outros leitores, talvez pouco atentos à verdadeira provocação que faz o artigo,
aceitassem, erroneamente, por interpretarem mal o artigo, a ideia de que os
professores promovem uma greve injustificável.
3- Você também leva 10 por se
sentir incomodado o bastante para procurar, ainda que em fonte obscura, alguma
resposta para suas dúvidas.
4- Eu levo 10 também, por escrever
isso num sábado de manhã.
Então se levanta uma voz ao fundo:
“Mas professor, você ficou em cima do muro?”
Acho que suei bastante para subir
nesse muro aqui e considero que é do alto dele que consigo enxergar um pouco
melhor. Porém, só pra você vai o que penso:
Os professores universitários têm
toda razão e direito de reivindicar o ajuste salarial, mas o governo, sobretudo
no que diz respeito ao Ministério da Educação, deveria rever suas políticas em
relação ao ensino superior, uma vez que todo salário pago a alguém é um
investimento que deve ter retorno, nesse caso, sobretudo para a população. O
bom gestor é aquele que sabe utilizar meios legais e justos para fazer seu
investimento render o máximo possível (não só materialmente). O artigo, nesse
sentido, é mais crítico ao gestor do que o contrário, e concordo inteiramente
com ele, principalmente com a conclusão.
Abs!
Leo
P.s.: contudo, devemos destacar o
seguinte: se o autor do artigo, em vez de escrever esse gênero textual, tivesse escrito
uma dissertação sobre o tema, ele precisaria elencar alguns contra-argumentos
para sua própria tese, algo que tornaria seu texto menos polêmico e
provocativo, embora, ainda assim, fomentador de reflexões.
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