Patriotismo:
entre adestramento e afeto genuíno
Infelizmente,
ao longo dos séculos, o sentimento autêntico de amor e
identificação em conjunto com uma língua, cultura, costumes e
coletividade, ou seja, o patriotismo, foi com grande frequência
maculado e distorcido em favor de governos e demagogos até
perigosos, que entraram para História ao prejudicarem tanto suas
próprias nações como outras. Assim, falseando interesses
nacionais, promoveram em alguns casos genocídios como os ocorridos
entre povos africanos, ameríndios, armênios, ciganos e judeus,
principalmente durante a época do colonialismo europeu e obviamente
com o Fascismo e o Nazismo em meados do século XX.
Exatamente
por esse motivo, tornou-se importante na contemporaneidade fazer a
distinção semântica entre termos como patriotismo, nacionalismo e
ultranacionalismo. Nesta última década, por exemplo, devido a
questões geopolíticas, em países como Hungria, Grécia, França e
Inglaterra, assim como nos EUA da era Trump, foi possível
testemunhar o fortalecimento de discursos ultranacionalistas,
amparados em ideais pseudopatrióticos, que estimulam
segregacionismo, xenofobia e violência, de modo a contrariar valores
humanitários anteriormente defendidos entre esses mesmos povos. No
Brasil, recentemente, em grau menos exacerbado, identificou-se também
erroneamente a ideia de intervenção e ditadura militar como atos
salvacionistas e patrióticos.
Em
contrapartida, é forçoso recordar que foi graças a movimentos de
identidade nacional no século XIX que ocorreu a chamada Primavera
dos Povos, dando surgimento a centenas de países, antes explorados
por suas metrópoles. Foi também com o sentimento patriótico
desvinculado de governos e projetos de poder, que países como a
Holanda, a França, a Coreia do Sul e o Japão, mobilizaram suas
populações para fortalecerem-se nas ações de solidariedade,
civismo, reforma educacional e até autoestima, a fim de conquistarem
objetivos comuns de reconstrução de seus países pós-guerra e em
favor do desenvolvimento humano e tecnológico nacional.
Portanto,
é lícito afirmar que o Brasil pode ser muito beneficiado pelo
desenvolvimento do sentimento patriótico entre seus cidadãos, não
como nos moldes ufanistas do período militar, mas com vínculo
afetivo genuíno de solidariedade, amor e esforço em benefício da
coletividade. Isso só será possível, no entanto, com o empenho do
Ministério da Cultura, promovendo eventos que ressaltem os aspectos
multiculturais do país, e com o Ministério da Educação,
fortalecendo os currículos de História do Brasil, Sociologia e
Filosofia, de modo que mais do que cantar o hino nacional, os
brasileiros se comprometam em se respeitarem entre si, respeitarem o
espaço público e desejarem o bem comum.
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