MODELO
DE ESTILO ENEM: FEMINICÍDIO
TEMA:
“Transformar em crime hediondo reduzirá os números de homicídio
contra mulher ou estamos diante de mais uma lei simbólica,
eleitoreira e populista?”
Até
a demagogia é um avanço
Milhares
de mulheres fizeram fila para denunciar seus abusadores quando, na década de 1980, no Rio de Janeiro e em São Paulo, abriram-se as portas das
primeiras delegacias da mulher. Com base na então recém-criada
Constituição Cidadã, essas herdeiras históricas dos aspectos mais
terríveis do machismo, estimuladas pela mídia - que assumira com
engajamento a pauta do empoderamento feminino - encontraram,
infelizmente, uma de suas grandes derrotas morais logo no primeiro
momento em que uma lei parecia favorecê-las de fato. Isso porque a
legislação que facilitava a denúncia não promovia real proteção
à mulher nem tampouco a punição ao agressor.
Desse
modo, a criação de delegacia especializada, contrariamente ao que
se alardeara pelo governo e pela imprensa, só serviu de início para
atiçar a ira de agressores contumazes que, uma vez delatados,
reiteraram espancamentos ou até mataram suas vítimas. Os boletins
de ocorrência, assim, não tinham efeito inibidor, nem as ordens de
prisão tinham poder coercitivo sobre o comportamento desses homens.
A dura lição foi aprendida: o que a pena escreve nada vale diante
de uma realidade complexa e violenta.
Contudo, apesar do despreparo
governamental, midiático ou da pura e simples demagogia desses
mesmos setores da sociedade, a discussão ganhou espaço. Assim,
foi exatamente por conta desse arcabouço de erros e acertos que já
é possível contar com a Lei Maria da Penha e do Feminicídio. Não
obstante, convém ressaltar que a mera letra não resolve, e a lição
de outrora não pode ser esquecida. Naturalmente, quando governantes
votam em favor de uma legislação como essa, o ato com frequência
reverte-se em capital eleitoral, ou seja, votos. É ainda válido
recordar que o discurso populista prima por se apoderar de anseios
coletivos, mas que, sobretudo, quando a pauta ganha força na
imprensa, a discussão é fomentada de modo a facilitar a pressão de
movimentos sociais e conscientização da sociedade a respeito do
tema.
Portanto,
o momento atual, no qual a presente lei entra em vigor, revela-se
como importante oportunidade para que temas como violência
doméstica, a controversa cultura do estupro, comportamentos,
costumes e valores que regem a sociedade em seus mais variados
âmbitos sejam discutidos. Para tanto, é imprescindível haver a
mobilização dos meios de comunicação, da sociedade civil
organizada, das universidades, escolas, hospitais, delegacias e da
jurisprudência, de preferência orquestrados por seus ministérios e
secretarias, a fim de que os instrumentos tanto de prevenção como
de aplicação da lei se consolidem em favor de quem realmente
precisa: a mulher.
MODELO
ESTILO ENEM: COMBATE AO FEMINICÍDIO
Redenção
de Eva
Em
nossa cultura de matriz judaico-cristã, é comum testemunharmos
comportamentos machistas que se assentam simbolicamente sobre o
princípio do que se convencionou chamar Estigma de Eva. Isso porque,
conforme interpretação ainda não superada do mito bíblico, assim
como Eva, a mulher costuma adquirir socialmente papel subalterno ao
do homem, tendo sua existência associada à necessidade de
autossacrifício e resiliência frente à dor. Eva, nesse sentido,
foi criada para amainar a angústia de Adão – ou seja, servi-lo -,
devendo mais tarde pagar com as dores do parto sua falta com Deus e
com o companheiro.
Infelizmente,
essa analogia está muito longe de ser superada, mesmo porque hoje se
sabe que, no Brasil, os maiores índices de mulheres resilientes à
violência doméstica – algo diretamente relacionado a feminicídio
– constatam nesse perfil a preponderância de mulheres evangélicas
que, ao recorrer à orientação de seus pastores frente a atos
violentos de seus maridos, são desencorajadas a denunciar os
cônjuges como também a se separarem deles. São, lamentavelmente,
exortadas à abnegação em nome de uma recompensa futura, o que
somente serve para perpetuar o comportamento criminoso de seus
companheiros tanto em casa como na própria cultura que permeia nossa
sociedade.
Contudo,
esse mal não está presente apenas nos meios sob influência
religiosa. De modo geral, também conforme recentes dados do Ipea,
existe uma tendência do brasileiro, até entre mulheres, de
culpabilizar vítimas de estupro e tolerar violências simbólicas
contra pessoas do sexo feminino. Não menos preocupante é o fato de
que, até mesmo entre governantes, classe supostamente mais
esclarecida, há resistência ao uso do termo feminicídio e à lei
que instituí crime hediondo nos casos em que se constata que a
vítima foi morta basicamente pelo fato de ser mulher.
Por
esse motivo, ainda é urgente que o tema ganhe ampla discussão na
mídia, nas escolas, nos hospitais, nas forças policiais e nos
ambientes jurídicos, a fim de que a perspectiva da mulher como
vítima da violência seja contemplada e atendida de forma ao mesmo
tempo preventiva e concreta para que haja real punição de seus
agressores. Para tanto, é essencial os esforços dos ministérios e
secretarias que tratam da questão da mulher e dos direitos humanos,
da saúde e da segurança pública. É importante ainda haver a
mobilização do governo em campanhas nacionais de informação e
sensibilização da sociedade, a fim de que as milhões de Evas
encontrem seu direito humano à real redenção.
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