Londrina, 15 de dezembro de 2011.
DISCURSO DE PARANINFO: COLÉGIO PONTUAL
FORMATURA DE ALUNOS DO 3º ANO DO E.M.
Senhoras e Senhores,
Pais, Mestres, Alunos e Equipe do Colégio Pontual,
Boa noite a todos!
Gostaria de agradecer sua presença
neste importante rito de passagem que ora se processa com os ex-alunos da 8a
série do E.F. e do 3º ano do E.M.
Antes de mais nada, como
ex-professor e sempre amigo, preciso dizer duas palavras que acredito serem as
mais importantes da vida, quando, ao pronunciá-las, impregnamo-las dos
verdadeiros sentimentos que as justificam. A primeira palavra é OBRIGADO, pois,
como a própria palavra resume, eu me sinto obrigado a retribuir-lhes alguns
favores: primeiro, o favor de vocês me ouvirem e, até certo ponto, darem
crédito às minhas palavras. Segundo: ao de exercitarem comigo muitas vezes sua
paciência e resignação. A segunda palavra é PERDÃO, porque sei que muitas vezes
poderia ter sido melhor com vocês do que fui. Poderia ter sido mais indulgente,
paciente, pacífico, tolerante, atencioso; não ensinando, mas exemplificando
essas virtudes que tanto prezo. Em outros momentos, poderia ter sido mais firme
e exigente, extraindo com mais intensidade o melhor de suas potencialidades de
aprimoramento e dedicação. Mas como é difícil acertar!!!
No entanto, por trechos retos e
sinuosos de um mesmo caminho, chegamos até aqui, provavelmente muito melhores
do que começamos. Enfim, meus amigos: obrigado e perdão!
Gostaria também de agradecer pela
honra de estar aqui hoje, que considero um presente dos então alunos do 3º ano,
jovens que espontaneamente foram inscrevendo seus nomes em alguns capítulos de
minha vida e que deixaram também que eu, outros professores e funcionários do
colégio fizéssemos o mesmo no livro de suas existências.
Se observarmos bem, deste fato,
constatado após um período de convívio entre todos nós, podemos extrair uma
lição profunda para qual não foi criada nenhuma matéria escolar e para qual as
provas aparecem sem aviso. A lição é que grande parte de nossa vida não é
escrita por nós, embora estejamos em todos os capítulos dela. Por esse motivo,
nada é, nem será de fato como planejamos. Embora isso possa causar insegurança
em alguns, é justamente na falta de previsibilidade do destino que talvez
resida a maior beleza da existência, que, como um mar que é sempre um mistério
para os navegantes, oferece, ao mesmo tempo, temor e fascínio a quem passa a
conhecê-lo.
Se podem aceitar então um conselho,
não nos deixemos paralisar diante de suas águas, não nos apeguemos à falsa
segurança das areias da praia, porque a verdade é que já passamos as espumas da
margem, e a construção de nossa felicidade dependerá de como negociaremos com
as forças das ondas, que vemos e estão por vir, e das correntes submersas,
invisíveis, cuja força, no entanto, rege boa parte da dinâmica desse mar que se
chama Vida.
Lancemo-nos nele então, deixemo-nos
molhar por inteiro, dediquemo-nos a conhecer além de sua superfície e
despertemos em nossos corações a coragem para enfrentar o desconhecido. Se hão
de vir as dificuldades, que venham, pois são elas que oferecem as oportunidades
para descobrirmos quem somos e do que somos capazes.
Se os planejamentos não são
plenamente concretizáveis, não ignoremos, no entanto, que planos são
importantes para todas as viagens. São eles que podem evitar certos sofrimentos
e constragimentos desnecessários e garantir a segurança no percurso que
escolhermos. Um barco, sem uma rota e mantimentos, facilmente fica à deriva e
faz náufragos. Sejamos, portanto, prudentes e, conforme aquilo que nos seja
possível, previdentes! Mas também ousados, pois às vezes precisaremos corrigir
a rota ou mesmo modificá-la.
Contudo, viver, todos vivemos, o
pobre, o rico, o bandido, o monge, e todos, até os que maquinam o mal, podem
planejar e se prevenir. Onde será então que está o segredo da vida?
Contrariando a máxima de que os fins
justificam os meios, um dos maiores pacifistas que o mundo já conheceu, Mahatma
Gandhi nos diz: “Os meios sejam os próprios fins”. Desse modo, ele estabelece uma
intrínseca e indissociável relação entre o modo de fazer e o objetivo de se
fazer algo. Isto é, a grande questão passa a ser como devemos conduzir nossa
vida.
Um médico pode ver diante de si um
cliente pagante ou um paciente necessitado de socorro.
Um sacerdote pode ver fiéis para sua
igreja ou irmãos de caminhada.
Um engenheiro pode ver estruturas,
concreto e aço, ou lares e casas de socorro.
Um agente de limpeza pode ver sacos
de dejetos ou a ordem, a higiene e a saúde que é garantida graças a seu
trabalho.
Ou seja, independente do lugar que
ocupemos na sociedade, o mérito de muito do que fizermos será determinado pelo
modo como nos posicionarmos diante da vida e, principalmente, diante dos
outros.
Se uma pedra não é inútil, quanto
mais o ser humano.
Cada um de nós tem sim a contribuir com o todo, e podemos
fazê-lo às vezes da maneira mais simples.
As guerras, as agressões e as
revoluções destruidoras são ainda ecos de um passado recente, porém já não
condizem mais com as mentes já um pouco iluminadas pelo conhecimento e
aquecidas pelo sentimento de humanidade. O mundo atual ainda convulsiona em um
processo de transformação sem volta, no qual, como disse um humanista, nós
somos impelidos a perceber que os grandes males da humanidade são muitas vezes
a soma de muitos de nossos pequenos egoísmos, de nossas pequenas indiferenças,
intolerância e falta de habilidade para lidar com os conflitos interiores e
exteriores que permeiam nosso cotidiano.
É por esse motivo que os nossos
desafios para transformação deste país e deste milênio dão-se principalmente no
campo de nosso universo íntimo, exigindo-nos:
- Sinceridade
para com os outros e para conosco;
- Honestidade
nas relações familiares e sociais;
- Comportamento
ético em relação ao próximo e à natureza;
- Comprometimento
com nossas áreas de atuação social e profissional;
- Compromisso
com a nossa felicidade e a dos outros.
O peso desses deveres é bem suave se comparado às imposições
de um mundo que os desconheça.
Procuremos ser justos, corretos, tolerantes, amáveis, verdadeiros. Responsabilizemo-nos verdadeiramente por nossas ações. Tenhamos coragem! Tenhamos esperança!
Vençamos o grande mar da vida com as ferramentas da justiça e do bem! Vençamos! Amigos, vençamos!
Saudades de todos!
3 comentários:
Poxa professor,ler esse discurso me dá um enorme nó na garganta,eu ficava bravo por ter que ir para escola mas ví que lá foi um dos lugares que mais me diverti,conheci grandes pessoas,algumas dessas que levo no coração e nas memórias,infelizmente cada um segue seu rumo,distante do nosso ou não...
Um grande abraço,
Guilherme C. Lima
Lucas Lopes aqui, valeu, professor. Com certeza o melhor professor de literatura que eu já tive, sem querer ser puxa-saco. Que tudo dê certo pra você aí. Abração.
Lucas, nota 10 para você! :) Vou incluir seu comentário em meu currículo. :)
Guilherme, se você escolher pela carreira de professor, poderá ir à escola todos os dias. :)
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